Cultura, pertencimento e Fake News.

Em “A Objetividade do Conhecimento” (1904), Max Weber propõe:

“Cultura é um segmento de significação que permanece irredutível à natureza e qualquer proposição de retorno à natureza é absolutamente contrária a uma civilização concreta”. 

Passível a troca mediante o contato, “cultura” em Weber ressignifica a forma com que se estuda a organização das sociedades na sociologia, percebendo o indivíduo em sua peculiaridade de ação para, então, entender o conjunto de toda a obra.

 Nesse sentido, a comunicação se torna ferramenta essencial para a construção da “ação social”. Explicando a realidade mas não a sendo -efetivamente-, o autor divide as ações em quatro: Ação tradicional, ação afetiva, ação racional com relação a valores e ação racional com relação a fins. O motivo pelo qual se divide dessa forma, reside no fato de que existem distintas racionalidades, ou seja, formas diferentes de se interpretar e relacionar. 

Tendo em vista a fluidez do conceito -quando aplicado-, podemos destacar que, no campo da manifestação de criatividade humana, a cultura atravessa os limites que foram criados culturalmente, instigante, não? A ideia de que se produz para os pares, sofre uma mutação quando encarada por essa perspectiva. Produz se para alguém. Há aqueles que dizem que, racionalizar a arte, faz com que essa seja esvaziada de sentido, mas que sentido há na falta de relacionamento com o que se vê e/ou escuta? 

Não questiono a “aura” da obra, pois escrevendo para o seu próprio tempo, Walter Benjamin na primeira metade do século XX, esclarece que em tempos de reprodução mecânica, a arte surge enquanto prática política e, dessa forma, compreende se uma função quando não é racionalizada, todavia, não o é pela ausência de valor que se constrói pela reprodução, objeto de crítica pelo autor. 

Quando se redescobre na imagem e/ou canção (ou em todas as outras formas de expressão artística) um sentido para além do que aparentemente se percebe, racionalizamos e nos relacionamos com o que nos é servido e, então, produzimos um sentido individual que se caracteriza no palco do pertencimento. Cultura. 

A não banalização desse diálogo revela uma forma específica de organização social. A arte comunica e, por efeito, produz uma ação. 

O pertencimento está ligado aquilo que cada indivíduo projetou como lar, não no sentido físico de alguma construção, mas de receptividade e afeto. É o que, de fato, pode gerar raízes. Ter a arte absorvida pelo outro nessa dimensão, deve provocar um ímpeto de responsabilidade em nós, aquele que exclui o projeto autoritário de “uma arte nacional” e que exclui também o pioneirismo tolo sem referência e, quando digo isso, me refiro aquele que é amante do egoísmo que, por sua vez, auxilia na manutenção das calúnias e fake news pelas redes. Se a sua arte está na escrita, peço que tenha um cuidado ainda maior com esse último ponto. 

Construir uma mentira não é difícil, sustentá-la, sim. A cada vez que reafirmamos o pseudo-pioneirismo que construímos, demandamos uma nova mentira, que afeta não só o meu círculo social mas tudo aquilo que tenho como oposto ao que julgo -de forma caluniosa e anti ética-. Assim sendo, é necessário sacrificarmos a ação social, a comunicação e, por fim, o indivíduo, toda vez que nos manifestamos em prol de um pioneirismo fajuto e tolo. É uma morte lenta. Fuja dela. 


Gyovana Machado é graduanda em História pela UFJF, formada no Seminário Teológico Rhema Brasil, líder de música em A Igreja.



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