“O céu está mais colorido por causa do mano Scank ; e a favela agora chora: sangue”

para alguns a definição de resistência se enquadra na relação de conceitos abaixo:

resistência

substantivo feminino

  1. 1.
     ato ou efeito de resistir.
  2. 2.
     propriedade de um corpo que reage contra a ação de outro corpo.

Corpo esse que pode não ser capaz de resistir à tudo, como aconteceu na madrugada de quinta feira (13 de janeiro) em que o artista urbano Scank e seu amigo Jerry foram surpreendidos por 5 homens armados que os espancaram e findaram a vida de Scank.

“foi morto a tiros enquanto trabalhava com um amigo, na madrugada desta quinta-feira (13)”

(http://www.nordesteusou.com.br)

“Meu filho não andava naquela região, ele foi ali somente para fazer o trabalho dele”, afirmou a mãe de Jailson Leonice Gaudino. “Não sei como aconteceu. Só me falaram que mataram ele pelas costas, com um único tiro. Ele fazia as pinturas dele e, nas horas vagas, me ajudava com as vendas e entregas das minhas quentinhas. Eu tinha três filhos, agora tenho só dois. Muito triste essa situação”, afirmou.

E assim resiste a arte de rua, tendo a vida de protagonistas ceifadas pela ignorância e ódio. Jailson ou Scank, como era chamado, levava consigo uma escola de caligrafia urbana que enchia os olhos de qualquer um que reparasse, assim como fez o Bahia Esporte Clube que se solidarizou com a fatalidade emitindo uma nota. O clube demonstrou  admiração pelo artista quando comprou uma das vacas da CowParade, a “Bahianinha”,  comprada e exposta atualmente no Centro de Treinamento do Bahia, em Dias D’ávila.

Como a caminhada do Scank, outras tantas foram interrompidas pela brutalidade alheia: Pixadores como Caixa do Rio, Jets e Anormal mortos pela polícia de São Paulo e Perigo. Entre outros que também tiveram a vida ceifada e ainda não se sabe os autores. Artistas de elite que mantiveram no movimento de pixação até o final da vida, que na maioria das vezes não conseguiram celebrar a oportunidade de viver de sua arte.

Alguns que “escaparam por pouco” como Nuno do Rio, inclinaram-se a produzir em prol do movimento, ainda que sem expor a integridade física. Para alguns que vi se afastarem da cena da pixação, a maturidade foi o que trouxe outros tipos de reflexão, que lançam em jogo os valores da vida de cada um, família, emprego, integridade física.

Para cada história de um ou uma escritora de rua, o conjunto de escolhas transforma a realidade da cena e arte de rua, a resistência tem sido um gesto que define essas histórias, consequentemente a resistência tem sido o maior ícone dessa modalidade de arte.

Acredito na resistência e na arte de cada um, penso nela como os pequenos ou grandes momento de contraposição à humanidade e seu fluxo existencial. Entretanto reconheço que as artes marginais oriundas das favelas, guetos, barracões, sofrem uma pressão desproporcional. Sendo essa pressão mais aguda para mulheres que compõem a arte de rua (ou seja em qualquer situação).

A arte sempre servirá como uma importante ferramenta para o nosso melhor entendimento sobre os aspectos sociais, temos muito a aprender quando não apenas vemos as obras, mas quando estamos desejosos e dispostos a enxergar a carga de conhecimentos que as suas linguagens desejam nos oferecer. Letras expostas na cidade despertam em pessoas, em sua maioria, os autodenominados “cidadãos de bem”, algum tipo de sentimento que abrem as portas para crimes como os que vem tirando a vida de jovens artistas.

Finalizo trazendo uma reflexão sobre nosso atual estado da arte e a ausência de empatia da classe artística para com os artistas de rua: Assim como a pixação, as expressões artísticas trazem novas perspectivas e consigo muitas reações, infelizmente parte das reações se dão pela ignorância de negar o potencial daquela arte para sociedade.

A arte contracultural serve para muitos como espaço produtivo, oportuno para questionar as certezas da humanidade, são inúmeras as transformações que o movimento da pixação proporcionou às vidas acolhidas, exemplos como do mano Scank que demonstrou progredir e ascender níveis na arte, ainda pouco atingidos até o momento final de sua vida. Até quando essas vidas sofrerão pela ignorância e o racismo cultural?

Esse texto foi construído por um esforço coletivo para reunir um pouco da memória de Jailson Galdino Souza dos Santos, 27 anos, conhecido popularmente como Scank. Mais uma vítima da arrogância dos homens que deixa um legado de resistência e amor a arte.

Salve para a enciclopédia humana da pixação, Ronaldo Gentil.

Manifestações pela Morte do artista:

_O pichador Djan Cripta também manifestou tristeza pela morte do artista. ” É muito triste porque a expectativa que a gente tava nele era muito grande, um talento sem igual. Tinha certeza que ele ia despontar. Mas é isso, a gente vai seguir na luta com a memória dele”, comentou.

_Roca Alencar: “Ele era alguém que você via o brilho no olhar. Desde 2011, vínhamos ajudando a alavancar a carreira dele porque ele era um grande talento, era genial. Era o melhor calígrafo de Salvador”, comentou a professora universitária Roca Alencar.

_Vírus escreveu que a morte de Scank significava a perda de um dos “maiores artistas plásticos/pichador de todos os tempos”. O pichador era irmão mais velho do cantor.

_Coletivo Lama também se manifestou sobre o falecimento. “Ainda não caiu nossa ficha também. Qualquer pessoa que acompanhe minimamente a pixação sabe da relevância dele para o movimento em Salvador e no Brasil. Mais do que isso era nosso amigo e também um dos organizadores de tudo que fizemos até hoje com esse coletivo. Não temos palavras para descrever o que sentimos nesse momento”,

Livro: Rio de Riscos – Nuno DV https://issuu.com/tramas.urbanas/docs/rio_de_riscos_sitehttps://issuu.com/tramas.urbanas/docs/rio_de_riscos_site

Reportagens

https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/grafiteiro-e-espancado-e-morto-a-tiro-enquanto-trabalhava-no-imbui

O Artista

https://www.cowparade.com.br/cowparade-salvador-2019


 Iury do Vale Borel é mineiro com formação acadêmica que coexistiu o erudito e marginal, formou-se pichador e desenhista industrial pela Universidade Federal do Espírito Santo, mas prefire resumir como ativista gráfico. Acredita na arte como meio de transformação e empoderamento do ser e de comunidades. Logo que inserido nos movimentos de arte de rua, buscou o relacionamento do dualismo presente em sua trajetória, coexistir o erudita acadêmico com o grafista marginal. Propulsor e criador de ideias como CinePixo, Oficinas de Tobograffiti e Artefatos da Arte de Rua que propõem uma visão empírica para mostrar as entrelinhas da arte urbana. Descriminalize a arte



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