LIBERDADE, ABRA AS ASAS SOBRE NÓS!

“Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos.
São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação
umas às outras com espírito de fraternidade”
(Artigo I, Declaração Universal dos Direitos Humanos)

Há algum tempo, um passarinho pousava na janela da minha casa todo dia de manhã, olhava para dentro, olhava para mim, ficava um pouco e ia embora. Eu o encarava com afeto e pensava que aquela presença era um sinal de que coisas boas estavam por vir. Inclusive, agradecia pela sua rápida passagem cheia de energia e liberdade.

No documentário “É tudo pra ontem”, Emicida relembrou um ditado iorubá que diz: “Exu matou um pássaro ontem com a pedra que só jogou hoje”. Fiquei pensando sobre essa frase e a sabedoria que ela transmite. Tudo o que é passado carrega história dentro de cada um, desperta sentimentos, alegrias e frustrações. Através desse passado, podemos acolher quem fomos, curar cicatrizes, perdoar, ser perdoado e mover caminhos para um novo futuro. Tudo o que é presente, vira passado.

Com algumas pesquisas, descobri que o Baralho Cigano possui uma carta de número 12 chamada “Os Pássaros”. Nela, aparecem dois pássaros que nos lembram sobre a liberdade. Os pássaros são belos e encantam com seus lindos cantos quando estão livres para irem na direção que desejarem. Quando a carta é tirada, é um pedido para que você seja como um pássaro livre, que siga sua vida com muita fé e sem se limitar ao enxergar novos horizontes.

Na foto, um pássaro está voando com algo na boca (alimento ou galho) e chegando no ninho, onde outro pássaro o aguarda. O número doze está em numeral do lado esquerdo e sete estrelas estão posicionadas no meio da carta.
Na foto, um pássaro está voando com algo na boca (alimento ou galho) e chegando no ninho, onde outro pássaro o aguarda. O número doze está em numeral do lado esquerdo e sete estrelas estão posicionadas no meio da carta.

Neste ano, não tivemos nossa maior demonstração de liberdade: o carnaval. Em 1989, o Hino da Proclamação da República deu vida para um Samba Enredo no carnaval. O Hino da República traz o verso “Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós! Das lutas na tempestade, Dá que ouçamos sua voz!”, enquanto sua adaptação para o enredo apresenta: “Liberdade, Liberdade, Abra as asas sobre nós / E que a voz da igualdade, Seja sempre a nossa voz!”.

Não há liberdade sem coragem; então, ser livre é compartilhar nossa existência na forma mais pura e leve de coragem. Como você manifesta a sua coragem? O pássaro, quando pequeno, tenta voar e cai repetidas vezes. Por isso, a caminhada exige também paciência e sabedoria. Devemos acolher nosso passado com a mesma coragem que precisamos para viver nosso futuro. Liberdade para voar, camarada!

Hoje em dia, o passarinho não aparece mais na minha casa. Torço para que eu possa encontrá-lo em um dos nossos voos de liberdade.


Ariadne Bedim é jornalista formada na Universidade Federal de Juiz de Fora, doula, redatora da Sátia (Agência de Comunicação Consciente), fotógrafa documental e afetiva, futura antropóloga visual e encantada pelas existências místicas.


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