por: Fred Spada
ARREBOL
Caminhas como quem pisa a areia e não sente o peso do mundo.
Úmida ainda, pouco ou nada permite gravar em si dos passos
que sobre ela dás enquanto segues o contorno do mar.
Os pés, todavia, marcam o ritmo da tua solidão,
e enquanto o sol se põe só o marulho habita a costa
e o teu coração.
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BEIRA MAR
para Camila Assad
já não recordava a última vez
em que tinha pisado a areia de uma praia,
mesmo indo com frequência ao Rio há alguns anos.
hoje, enquanto caminhava pelo calçadão de Ipanema,
me lembrei do que você me havia dito
em uma de nossas primeiras conversas:
que as pessoas em São Paulo não pisam a grama
– e eu confessava que fazia tanto tempo ou mais
que pusera os pés descalços na grama verde.
então tirei tênis e meia e fui sentir a areia novamente,
enquanto o sol se punha
por detrás do morro Dois Irmãos.
não era grama, não entrei no mar,
sequer molhei os pés,
apenas o pôr-do-sol ficou guardado na fotografia.
ainda assim
há muita vida
nessas pequenas experiências sensoriais.
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FRED SPADA é poeta, tradutor e editor das Edições Macondo.