As coisas não existem em si – elas existem como um RIZOMA. Curadoria pressupõe, pensar e falar de arte, de produção cultural, arte e território. Cultura e transformação. Não se baseia por aspectos estéticos e subjetivos, políticos ou relacionais. O trabalho do Curador vai além disso, pois ali tem a vida das pessoas, sentimentos, emoções. O trabalho não acaba na curadoria, desdobra-se num rizoma.
Portanto, é preciso pensar o Curador como alguém que está construindo um sentido de arte, estabelecendo a comunidade de sentidos do lugar. O que toca as pessoas que vão fruir a arte? O que transforma e reinaugura o olhar da audiência, da plateia, etc.?
O Curador tem a capacidade de articular coisas distintas. Sobre ele atuam diferentes desafios: como selecionar entre 500 – 30 peças? Esse é o modelo dos editais, efetivação de comissões de seleções de projetos que não pensam de forma orgânica. Que critérios são usados? Como se escolhe sem intuir e refletir profundamente sobre o que está se escolhendo. Quais os aspectos de atuação do Curador? Qual a função do Curador dentro dos editais públicos? O que a curadoria está buscando? É para o desenvolvimento humano ou para o mercado? O mercado da cultura ou o mercado de artes?
O artista não é mais esse ser brilhante que o iluminismo criou, as pessoas estão procurando um sentido de mundo, estão nas ruas, estão nas redes sociais, estão buscando, estão lutando. O Curador tem que estar ligado à esses fatores. Tudo está articulado com o social. As dimensões do coletivo são seu mister. O cenário em que o Curador anda é muito mais complexo. Escolher a peça é o de menor importância, mesmo sendo o cerne da questão, o que precisamos é pensar nos desdobramentos, na produção de sentidos, na provocação que levará ao debate e à reflexão. Portanto, o curador não pode viver o individualismo – essa alienação que está no mundo – ele precisa produzir em diversas pontes, em diversos níveis e dimensões, pois ele contribui para o sistema cultural.
Nesse sentido, ele é um mediador entre o artista, a obra e o público, por isso tem que ser alguém antenado, articulado, com abertura para exercer a análise e a crítica de modo a compreender a obra de arte na extensão do que ela pode produzir em reflexos estéticos, éticos, artísticos, afetivos, humanos, políticos, sociais, econômicos, etc.
Então, o que motiva um Curador? A experiência dele? O mercado? A política? A visibilidade? A vaidade? O curador não pode estar alienado, ele tem que ter múltiplos olhares da cidade. (Milton Santos). Ele define tendências. Julga o trabalho do outro. Paradoxalmente, corre-se o risco do Curador se tornar mais importante que o artista. São situações não desejáveis produzidas a partir da relação Curador e mercado. Isso é uma deformação, os costumes são descartados, os valores invertidos (curar ser mais importante que criar arte, ainda que curadoria seja um ato de colaboração criativa).
Então, como tornar a curadoria participante, orgânica?
Curadoria para vida e não para o mercado. Ter noção que mediar é estar entre público, artista e patrocinador, mas sem perder de vista que o Curador atua a partir do trabalho do artista. Logo, sua interlocução é ampliar a potência da obra artística para alcançar seus públicos e com eles dialogar.
Para isso é preciso ter foco, dedicação, mas, sobretudo, responsabilidade e comprometimento. O Curador não pode ser arbitrário nem superficial, vendo projetos de véspera ou mesmo escolhendo porque tem nomes conhecidos. Se assim o for, ele comete crime de lesa à cultura ou, pior, se torna, muitas vezes, operador de um sistema que condena, um algoz.
É preciso provocar experiências transformadoras no encontro com a arte. Precisa-se de Curadores que não sejam meros operadores do sistema, mas que pensem na mudança, na transformação humana, que articulem utopias, que ajudem a tecer sonhos, que vejam na arte a única arma para vencer a barbárie.
Dane de Jade é curadora, atriz-pesquisadora, produtora, arte-educadora, radialista e gestora cultural. Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Regional do Cariri – URCA, cursou também arte-educação na URCA, pós-graduação em Gestão Estratégica nas organizações de Terceiro Setor na Universidade Estadual do Ceará – UECE, Gestão Cultural pela Universidade Federal do Cariri – UFCA, Arte Educação pela Universidade Regional do Cariri – URCA e Doutoranda em Turismo, Lazer e Cultura pela Universidade de Coimbra em Portugal. Dirigiu o Departamento de Promoção, difusão e Ação Sócio-Cultural da Fundação Cultural J. de Figueiredo Filho em Crato-CE, fomentou a criação e gerenciou o Programa Cultura do SESC Ceará onde criou e coordenou, entre outros projetos, a Mostra SESC Cariri de Culturas. Foi a responsável pela curadoria do projeto “Traga a França para os meus versos e leve os meus versos para França”, dentro da programação do Ano França/Brasil na Universidade de Poitiers e criou a Mostra SESC Luso-Brasileira, em Coimbra/Portugal. Por 13 anos foi a curadora representante do Ceará nos projetos Palco Giratório – Rede Nacional de Difusão e Intercâmbio das Artes Cênicas e Sonora Brasil – Formação de Ouvintes Musicais. Sócio-fundadora da Ong BEATOS – Base Educultural de Ação e Trabalho de Organização Social. Realiza palestras e oficinas sobre Gestão Cultural em diversas regiões do país. Vencedora do Prêmio Claudia 2012 (maior premiação feminina da América Latina realizada pela editora Abril) na categoria Cultura. Atuou como Membro do Conselho Estadual de Cultura do Ceará, consultora da Associação Teatro da Boca Rica e Professora convidada do Curso de Gestão Cultural do CPF – Centro de Pesquisa e Formação do SESC SP. Desenvolve trabalhos e pesquisa na área de tradição popular. Secretária de Cultura do Município de Crato (2013-2016). Coordenadora do Escritório Regional de Cultura Cariri/SECULT CE e Escola Vila da Música Monsenhor Ágio Augusto Moreira.
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