Quando na primeira edição da revista, questionei à respeito do quão aprisionados tem sido nossos meios de ensino e produção cultural que tem influência direta na construção do indivíduo e no olhar dele sobre e para a sociedade, percebi que essa questão continua aberta em meu imaginário.
Bertolt Brecht disse certa vez Diz-se das águas do rio que são violentas, mas nada se diz das margens que as comprimem.
Não sou um entendedor das artes, mas me interesso pelas maneiras que o nosso sistema educacional tem promovido a vida e o diálogo. Para além disso, me intriga ainda mais a maneira com o sistema carcerário se constituiu como perpetuador da pena e não como promovedor da reconstrução.
Existem leis tanto em nossas escolas quanto em presídios, sobre comportamentos e formas de pensar que acabam “deformando” a contribuição do indivíduo para com a sociedade.
Por exemplo, a sede por um “acesso” a um diploma com projeções rentáveis financeiramente cerceiam o caráter criativo e o impulso da inovação que é inerente a qualquer ser humano.
Um outro exemplo do que comentei sobre o sistema carcerário, tenho recordado de experiências acompanhando projetos na fundação casa em São Paulo e recordando de livros a despeito da arte e da criatividade como refém dentro do sistema carcerário.
A atividade teatral inserida em um organismo penal acaba por instaurar uma complexa contradição, pois ela visa promover reflexão a partir de um processo artístico coletivo. No entanto, ela se depara com limitações relacionadas ao fato de acontecer em um ambiente cujas regras, explícitas ou não, constituem uma rede coercitiva e contrária ao exercício crítico pertinente ao livre pensar, essencial a qualquer manifestação artística.
Obviamente, as intensidades e os dilemas entre a vida acadêmica e a vida na prisão são diferentes, mas existem dilemas que são comuns aos dois.
O livre pensar é limitado e reprimido em quase sua totalidade.
O desejo por descobrir e reinventar também é restrito e taxado de diversas palavras e xingamentos que só fortalecem estereótipos.
Uma pergunta fica martelando: Sabendo das contradições e os limites da prática artística com presidiários, é possível que ela provoque alterações no modelo prisional hoje estabelecido?!
Longe de mim querer ditar uma leitura absoluta, mas desejo nesse e nos próximos textos, construir questionamentos sobre como nos enxergamos como criadores, de onde vem a nossa sede por mais do que produzimos, sobre nosso senso de pertencimento e onde a arte contribui para que possamos desenvolver espaços de construção e de igualdade dentro da nossa sociedade
Kariston França é apaixonado por pizza, e nas horas vagas atua como entusiasta da teologia pública
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