Desde muito pequena me lembro do meu pai manuseando algumas das câmeras fotográficas que tínhamos em casa. Sua paixão e talento pelo mundo da fotografia e do vídeo despertou em mim um interesse pela área. No entanto, foi na primeira vez em que folhei um livro de fotografia – ‘Terra’ de Sebastião Salgado – que me peguei pensando ‘é isso o que eu quero fazer’.
Na época, a carreira na fotografia parecia um sonho muito distante. Os equipamentos eram caríssimos (mais do que são hoje) e as oportunidades de se tornar um professional reconhecido na área pareciam ínfimas. Mas como num flash, o mundo passou de analógico a digital e o Instagram tornou-se a forma padrão para como vemos fotografias.
Com a possiblidade de ter minhas fotos visualizadas por centenas, milhares, ou mesmo milhões de pessoas e com a facilidade de ver e se inspirar no trabalho de outros, a plataforma serviu como gasolina para o meu interesse em fotografia – e certamente para o interesse de muitos outros. No entanto, o uso dessa ferramenta tem tido também efeitos questionáveis no processo de apreciação da arte fotográfica.
A maneira como um fotógrafo escolhe apresentar seu trabalho é uma parte importante da arte fotográfica. Faz parte da história e do conceito. Uma foto é uma obra de arte e sua forma é tão importante quanto qualquer outro trabalho artístico. Por exemplo, ainda que cada foto de ‘Terra’ tenham em si mesmas valor artístico, elas não foram criadas para serem vistas isoladamente, tampouco através de uma pequena tela de celular. Antes de tudo, elas fazem parte de uma peça narrativa coletiva, uma mensagem dita através de um documental fotográfico. Muitas vezes, um trabalho fotográfico pode ser visto no Instagram, mas não pode ser experimentado e apreciado através da plataforma. Além disso, a busca por likes e a reprodução de certos padrões estéticos têm muitas vezes um efeito quase que parnasiano, onde a sacralidade estética é um fim em si mesma.
Não, este não é um apelo para ‘voltar às origens’, tampouco um desdém ao Instagram. Esta é apenas uma lembrança de que o Instagram é uma ferramenta disponível para dar apoio à nossa visão criativa e não para defini-la. De que, muitas vezes, é melhor experimentar a arte fotográfica ao invés de apenas vê-la.
Jaqueline Herodek é mestre em comunicação social e fotógrafa. Trabalha como consultora de comunicação para o Instituto das Nações Unidas para Formação e Pesquisa (UNITAR).
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