Sabe quando você acorda com o pé esquerdo?
Então, na Filosofia de Parmênides, opinião é a ideia confusa acerca da realidade e que se opõe ao conhecimento tido como verdadeiro.
Simples, rápido e direto, não precisaríamos de um artigo para apresentarmos argumentos lógicos para uma questão que já foi resolvida há mais de dois mil e quinhentos anos atrás.
Mas pela forma como as coisas andam ultimamente é sempre bom poder relembrar e iluminar nossas mentes, entorpecidas por essa explosão de estímulos que sofremos diariamente, com ideias verdadeiras que construiram nossas sociedades.
Mas antes…
Não posso deixar passar esse fato curioso, você já parou pra refletir de onde surgiu a expressão “acordar com o pé esquerdo”?
Foram as superstições do povo romano que determinaram o surgimento dessa expressão ou hábito. Em várias ocasiões, os romanos cumpriam rituais e simpatias que, segundo eles, atraíam a sorte ou chamavam a atenção das divindades positivamente.
No caso, quando ocorriam grandes festas, os anfitriões pediam que seus convidados adentrassem a casa com o pé direito, crendo que isso garantiria que o evento ocorreria de uma boa forma.
Segundo consta, os lados direito e esquerdo simbolizavam o bem e o mal para os romanos. E isso se espelha na prática que falamos para as pessoas que nos ajudam são o nosso “braço direito”. Vemos esse reflexo também nos termos “canhoto” ou “esquerdo” que designavam a figura do diabo em algumas culturas arcaicas cristãs.
Voltando a raíz…
Entre 570 a.C e 495 a.C Pitágoras cunhou um termo chamado Filosofia, que traduzindo literalmente ficaria amor pela sabedoria. Ela nada mais é que o estudo das questões gerais e fundamentais relacionadas com a natureza da existência humana, do conhecimento, da verdade, dos valores morais e estéticos, mente, linguagem, basicamente sobre o universo que conhecemos.
Ela é diferente da religião ou mitologia pelo fato da utilização da argumentação racional como base, o que também a torna diferente de pesquisas científicas por não recorrer a procedimentos empíricos em suas investigações.
E por que eu estou recorrendo a filosofia? Pelo simples fato de que a humanidade já tem pensando, trabalhado e construindo conhecimento há milênios, me libertando da necessidade de se ter uma opinião vaga sobre algo.
Gosto muito de um vídeo onde Will Smith comenta sobre as duas chaves da vida, utilizando a lógica para argumentar seus pontos:
Em primeiro e segundo lugar , o que é uma opinião?
Platão distinguiu entre opinião ou crença comum (doxa) de um certo conhecimento, e existe uma distinção gritante e praticável: ao contrário que “1 + 1 = 2” ou “não existem círculos quadrados“, uma opinião tem um certo grau de subjetividade e incerteza.
Mas “opinião” varia de gostos ou preferências, desde de visões sobre questões que abrangem a maioria das pessoas, como prudência ou política, a visões baseadas em conhecimentos técnicos, como opiniões jurídicas ou científicas.
Você realmente não pode discutir sobre o primeiro tipo de opinião. Eu seria tolo em insistir que você está errado ao pensar que macarrão é melhor do que churrasco.
O problema é que, às vezes, implicitamente, parecemos considerar irrelevantes as opiniões do segundo e até do terceiro tipo, como consideraríamos as questões de gosto.
E talvez essa seja uma das razões (sem dúvida, existem outras) pelas quais amadores entusiastas acham que têm o direito de discordar de cientistas climáticos e imunologistas e ainda terem o direito de seus pontos de vista serem “respeitados”.
Você não tem direito à sua opinião. Você só tem direito ao que pode argumentar.
É necessário que haja a construção e defesa de um argumento, ou o reconhecimento de quando uma crença não investigada ou pobremente refletida é indefensável.
O problema de “tenho direito à minha opinião” é que, com muita frequência, ela é utilizada para proteger crenças que deveriam ter sido abandonadas ou questionadas. Torna-se uma abreviação de “eu posso dizer ou pensar o que eu quiser” – e, por extensão, continuar argumentando é visto de alguma forma como desrespeitoso.
E essa atitude alimenta, a falsa equivalência entre especialistas e não especialistas, que é uma característica cada vez mais perniciosa de nosso discurso público.
Trecho de uma matéria da BBC:
OPINIÃO
“Não sou eu que estou falando, são os fatos”, diz um rapaz brasileiro para a câmera.
Os “fatos”, segundo ele: “o vírus da zika foi criado pela família americana Rockefeller, enquanto Bill Gates usou sua fortuna para investir em vacinas. Ambos com o mesmo objetivo: reduzir a população mundial”.
FATO
Muitos brasileiros usam um vídeo que mostra uma fala de Bill Gates em que ele menciona redução populacional e vacinas. A teoria da conspiração de que ele investe em vacinação para reduzir a população mundial já foi notoriamente desmentida.
De fato, sua fundação investe em vacinas, mas, segundo ele, com o objetivo de salvar a vida de mais crianças, não de matá-las por meio da vacinação. O empresário já declarou que acredita que salvar a vida de crianças, ou seja, reduzir a mortalidade infantil, pode ajudar a reduzir o crescimento da população mundial, que ele apoia.
“Primeiro, mais crianças sobrevivem, depois, famílias decidem ter menos crianças”, escreveu numa carta em 2018.
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48695113
Essa matéria mostra o impacto que uma opinião – ideia confusa acerca da realidade e que se opõe ao conhecimento tido como verdadeira – pode gerar com os meios de comunicação que temos hoje ao nosso dispor.
Então, o que significa ter “direito” a uma opinião?
Se “todos têm direito a sua opinião” significa apenas que ninguém tem o direito de impedir que as pessoas pensem e digam o que quiserem, a afirmação é verdadeira, mas bastante rasa.
Ninguém pode impedi-lo de dizer que as vacinas causam autismo, não importa quantas vezes essa alegação tenha sido contestada.
Mas se “direito a sua opinião” significa “direito a ter suas opiniões tratadas como sérias candidatas à verdade”, então isso é claramente falso.
Portanto, da próxima vez que você ouvir alguém declarar que tem direito a sua opinião, pergunte a ele por que ele pensa isso. As chances são de que, nos dias de hoje, você acabe sem ter com quem continuar a conversa.
E antes de eu partir…
Tenho direito à minha opinião ou tenho o direito de minha opinião é uma falácia lógica na qual uma pessoa desacredita qualquer oposição ao afirmar que tem direito à sua opinião.
A falácia lógica às vezes também se apresenta como “vamos concordar em discordar“.
Se alguém tem um direito ou direito específico, é irrelevante se sua afirmação é verdadeira ou falsa.
Onde é feita uma objeção a uma crença, a afirmação do lado direito pisa os passos usuais do discurso de afirmar uma justificação dessa crença ou um argumento contra a validade da objeção.
Tal afirmação, no entanto, também pode ser uma afirmação da própria liberdade ou da recusa em participar do sistema de lógica em questão.
O filósofo Patrick Stokes considera essa expressão como problemática, porque freqüentemente é utilizada para defender posições indefensáveis ou para “[implicar] um direito igual de ser ouvida sobre um assunto em que apenas uma das duas partes possui os conhecimentos relevantes”.
O maior engano que os homens sofrem são suas próprias opiniões.
-Leonardo da Vinci
Diego Mendes é nascido em Rio Negrinho na melhor safra – 1982 . É um pensador, curador de conteúdos e engenheiro de software que tem buscado fazer a melhor jornada possível nessa vida.
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