Assim como eu, acho que muitos já torceram o nariz para alguma forma de expressão contemporânea. Talvez você já tenha pensado que tal expressão fosse “desnecessária”, “ruim”, “vulgar”, “sem sentido”. Talvez até fossem mesmo. Nós temos uma grande dificuldade de perceber outras formas de linguagem que podem nos tocar sem necessariamente ser através da imagem ou de sons já consolidados na sociedade.
E se uma obra contemporânea talvez esteja ali para realmente fazer a pessoa refletir sobre sua necessidade? Sobre sua má qualidade? Sobre sua vulgaridade? Sobre sua falta de sentido?
O que percebo quando vejo um certo repúdio a uma obra cuja linguagem não consegue atingir seu espectador de forma direta, é um desejo de remover aquela obra. De ignorá-la por completo e buscar algo que a agrade em seu lugar. É uma máxima que já está na nossa história por um bom tempo: o medo do desconhecido. Não é nenhuma novidade que com o efeito de viralização da Internet, hoje conseguimos perceber muitas críticas a obras com linguagem abstrata e aos espaços físicos que as abrigam. Pessoas se identificam e se aglomeram com a mesma opinião de repúdio àquilo que desconhecem e à forma como expressões são executadas.
Essa linguagem indireta, provocativa, abstrata e que possui reflexão, tem seu público-alvo definido assim como qualquer outro meio de comunicação. Muitas vezes ela requer um certo conhecimento prévio, informações adicionais ou uma reflexão para captar sua essência posteriormente, pois de início podem parecer fora de contexto. Sendo assim, talvez uma obra de arte contemporânea realmente tenha elos mais fortes com um nicho elitista, com um linguajar acadêmico e de forma menos direta para um grande público.
Essas obras cumprem seu dever, fazem suas comunicações e atingem seu público. Quando levadas para o meio digital, através de redes sociais, aplicativos de mensagens, jornais e vídeos, acabam sendo desfiguradas, descontextualizadas. Perdem sua essência, assim como perdem seu público-alvo. Logo surgem os ataques às obras e aos museus. São estes museus que se tornam os grandes defensores dessas expressões repudiadas pelo público alheio ao contexto.
Um museu está para a arte e liberdade de expressão assim como o Supremo Tribunal Federal está para a Constituição. São guardiões destas figuras e não devem ceder jamais a opiniões públicas pretensiosamente disfarçadas como a “opinião da maioria”, como se a democracia fosse baseada apenas em números e não em oportunidades e isonomias.
Um museu e seus curadores devem abrigar aquilo que comunica, que expressa, que precisa estar ali para ter seu espaço. Não importa a data e seu contexto sócio-político.
Museus são atemporais assim como expressões artísticas. Dentro de seu ambiente, todas linguagem devem ser preservadas; elitistas, populares, complexas ou simplórias. Assim se dá a liberdade de expressão nestas instituições.
Gáyan Justo é um perdido entre o mundo das artes e o mundo da computação. Só sei que nada sei mas sei que ninguém também sabe.
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