The Baggios: a maior banda de Sergipe que você precisa ouvir

Completando 15 anos de existência em 2019, o grupo se vê no melhor momento de sua carreira e alcançando cada vez mais projeção nacional.

 As coisas não tão dando certo pra mim
As coisas não tão dando certo pra mim
Mas não vou desistir
Eu não vou desistir
Se eu não for, se eu não for
Vai saber o motivo

As origens da The Baggios remontam às ladeiras e ruas de São Cristóvão-SE, quarta cidade mais antiga do Brasil e vizinha da capital estadual Aracaju. A banda, que começou em 2004 como um duo formado por Júlio “Julico” Andrade (vocais, guitarra) e Lucas Goo (bateria), tem em sua marca sonora a fusão entre o blues rock de artistas dos anos 60 e 70 e outros mais modernos – como o The Black Keys – com elementos regionais típicos do Nordeste, mais especificamente os existentes em Sergipe e em sua cidade natal, marcada pela forte tradição histórica, folclórica e popular.

Em 2006, Lucas foi substituído por Elvis Boamorte, que em 2008 deu lugar a Gabriel “Perninha” Carvalho, que se mantém como baterista até hoje. Três anos depois lançaram o primeiro álbum, autointitulado, que trazia um som cru e já marcado por essa conjugação entre o blues rock e o sabor sergipano e nordestino.

Uma das marcas mais interessantes na The Baggios sempre foi a devida valorização à sua terra natal, o que não mudou mesmo com a crescente projeção que a banda ganhou ao longo dos anos. Um exemplo é a canção “Pisa Macio”, cujo nome deriva de uma famosa bebida vendida na cidade.

Em 2013, lançaram seu segundo álbum, Sina, onde refinaram ainda mais seu som. Para este que vos escreve, Sina foi o ponto de partida da minha relação com a The Baggios, pois 2013 foi o ano em que cheguei a Aracaju e logo fui apresentado à banda. Várias das canções do álbum têm me acompanhado desde então, fazendo parte da minha trajetória em Sergipe e dialogando com várias fases da minha vida. Esta canção abaixo foi provavelmente a primeira que escutei deles e permanece sendo uma das minhas favoritas:

Três anos depois foi a vez do terceiro disco, Brutown, vir ao mundo. E já era possível sentir uma diferença em termos de sonoridade e produção: a adição do tecladista e baixista Rafael Ramos trouxe texturas sonoras mais ricas, e as letras passaram a dialogar mais com o contexto sociopolítico do país e do mundo (a canção “Sangue e Lama” trata da tragédia de Mariana-MG, bem como do ataque terrorista no Bataclan, em Paris), embora ainda mantendo as referências a São Cristóvão e aspectos das vidas dos próprios membros – incluindo nas referências musicais. A banda ganhou participações de peso como Emilly Barreto (do Far From Alaska), Jorge DuPeixe (Nação Zumbi) e Felipe Ventura (Baleia).

Com o alcance maior de Brutown veio uma significativa maior aclamação e uma grande surpresa: a indicação ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock ou Alternativo em Língua Portuguesa. Feito impressivo que ajudou a trazer maior visibilidade ao cenário musical de Sergipe, notoriamente rico, mas que carecia de uma projeção que lhe fizesse jus.

Uma nova mudança estilística e sonora veio com o quarto e mais recente disco, Vulcão. Se Brutown em si era urbano, expansivo, Vulcão mostrou um trio (agora com Rafael Ramos oficializado como membro) se voltando para a natureza e o místico, resultando na sua obra mais diversa e versátil. Pessoalmente não consigo escolher qual dos dois álbuns é o meu preferido, ainda que cada um dos quatro álbuns tenha seus próprios motivos para figurar como o favorito no coração dos fãs.

Com as participações de Russo Passapusso (do BaianaSystem) e Céu, Vulcão garantiu à Baggios sua segunda nomeação ao Grammy Latino, na mesma categoria do seu antecessor. E mesmo não ganhando o prêmio (ironicamente, os vencedores foram justamente o BaianaSystem), novamente tiveram reiterada a sua projeção a nível nacional e até mesmo internacional – importante destacar que nos últimos dois anos a banda já fez turnê pela Europa e pelo Canadá. 

Mas como é sempre bom frisar, isso não significou a perda de suas raízes. Tanto é que nos últimos três anos a banda é uma das headliners do Festival de Artes de São Cristóvão (FASC), festival que acontece na cidade desde os anos 70 e que nos últimos anos tem ganhado cada vez mais relevância ao trazer artistas do calibre de Gilberto Gil, Lenine, Chico César, Mart’nália, Liniker e os Caramelows, dentre outros. Porém, uma marca do FASC sempre foi trazer a valorização do cenário local e regional de Sergipe, e, portanto, é imprescindível o peso que The Baggios carrega ao tocar num festival em sua cidade natal. Na última edição do festival, ocorrida entre os dias 14 e 17 deste mês, a banda realizou seu show um dia após o resultado do Grammy Latino, e fez de sua apresentação um passeio pelos seus 15 anos de trajetória, trazendo ao palco figuras da história da banda (como o próprio Lucas Goo, baterista original) e o grupo folclórico das Casseteiras de Mestre Rindu, nativo da própria cidade.

A cada dia The Baggios ganha cada vez mais relevância no cenário musical brasileiro, e não é exagero apontá-la como a banda mais importante da música sergipana nas últimas décadas. Porém, é importante destacar que nem de longe ela é a única excelente banda a sair do estado, mas certamente é a porta de entrada para se ouvir o que os sergipanos têm produzido. Com tremenda consistência e nunca se furtando a experimentar e inovar sonoramente falando, The Baggios se constitui uma experiência obrigatória para todo amante da música.


Vinícius Oliveira Rocha é um paulista de nascimento e baiano de coração que atualmente reside em Aracaju-SE, onde faz graduação em Jornalismo. É aficionado por cinema, música, literatura, TV, cultura pop e mobilidade urbana, e autor do livro de fantasia infanto-juvenil “O Destruidor de Mundos”.


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