Reflexões de um Artista: Benevolência, Resiliência e a Arte Querigmática

Recomeçar é sempre um ato de bravura. A perspectiva pós falha é sempre angustiante, mas enriquecedora, pois nos coloca em lugares onde antes não imaginaríamos estar. É fácil e palpável olhar para trás e, por instantes, reviver memórias e experiências de resiliência. Nessa altura, já não importa a credencial de artista, de filósofo ou pensador. Afinal, é nessa altura – nem um degrau a mais, nem um degrau a menos – que somos capturados pela arte.

Quase que compulsoriamente, num instinto sobrevivente, passamos a olhar para fora e encontrar a vida; num lapso, o que era cinza passa a ter cor e, num suspiro, retoma-se a nau do navio. Certamente é a novidade se aproximando. 

Recomeçar é bravura, mas renascer é dom. É dom por não se condicionar ao poder da resiliência, mas à benevolência de quem o oferece. 

Compulsoriamente, o instinto sobrevivente conduz o olhar para dentro e a percepção para a vida existente. Num lapso, nunca houve cinza e já não é necessário temer a direção do navio. Certamente houve benevolência. Nessa perspectiva, numa direção, o recomeço produz a arte contemplativa/perceptiva , e noutra, o renascimento produz uma arte que anuncia, pois experimentou a benevolência. Há, portanto, uma disparidade enorme entre ambas, entre o contemplar somente e o experimentar. 

Sou músico há 15 anos. Pra mim a música sempre foi o lugar de ex- pressar a alma na perspectiva do pós falha, do lamento e da angústia. Não importando a credencial, fui tomado, nos últimos meses, pela necessidade de expressar mais que as palavras e, com um lápis na mão, desenhar o que sentia e o que percebia. 

Sabendo que estava pisando em solo novo, sem experiência e temerário quanto ao que poderia plantar e colher, me dei conta de que o esforço da representação daquilo que eu percebia manteria-se sem significado, como correr em círculos. Me dei conta de que a arte resiliente/contemplativa não me leva a lugar algum se eu não nascer de novo, se eu não experimentar a benevolência, se eu não experimentar no coração aquilo que antes somente contemplava. 

Foi nesse momento que entendi que havia recebido benevolência, foi nesse momento que eu percebi a vida fora e dentro de mim, foi nesse momento que entendi que, melhor do que a resiliência é renascer pela benevolência de outrem. 


Gustavo da S. Lima é estudante de engenharia elétrica pela UFJF, cristão reformado, músico, ama teologia, filosofia, churrasco e “The Creation” de Joseph Haydn.



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