Dentro de um quarto escuro, à luz de velas, um homem chora escrevendo sua última poesia. Ele sopra sem vigor e a vela se apaga, as lágrimas molharam o papel, as letras enrugaram e a tinta da caneta esferográfica azul desbotou no molhado, a poesia ganhou a epifania que o poeta viveu e chorou com ele.
Paulo de Tarso um dia escreveu que a poesia sou eu, e foi aí que entendi o motivo de eu me enrugar e desbotar ao teu compasso, “porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:10). A palavra grega traduzida como “feitura” é poiema, que significa, literalmente: “aquilo que foi feito, uma obra de artesanato”, ou então, “poema”. Paulo diz que somos poesia criada em Cristo para as boas obras, ou seja, Deus nos fez arte para que fôssemos artistas.
Tomando como base o pensamento de CS Lewis em um de seus ensaios, uma boa obra tem em seu conceito mais puro a ideia de excelência – de ser boa. E isso é cada vez menos encontrado nesse contexto capitalista moderno no qual estamos inseridos, onde o que é considerado “bom” não é excelente, é artifício de obtenção de capital, e também é efêmero, não tendo, no entanto, uma efemeridade artística que dá dignidade à obra: tal caráter está aqui também a serviço do dinheiro, nada poético. A obsolescência programada dos produtos é fruto da objetificação e da materialização da arte, o que é lucrativo aos planejadores e às engrenagens do sistema de produção porque “o ser humano só muda quando a dor de permanecer for maior do que a dor de mudar”. (STRAUB, Ericson; CASTILHO, Marcelo, 2010, p.8).
O artista, atualmente, trabalha em função da recompensa pelo seu trabalho e não pela epifania de se fazer arte; e nisso, falha. O feitor merece ser recompensado e reconhecido pela sua feitura, mas a boa obra tem que valer a pena ser feita em quaisquer condições, ainda que ninguém pague por ela, porque nascemos e vivemos para sermos arte e artistas – sempre. Ainda que dentro de um quarto escuro, à luz de velas, molhando o papel com lágrimas e sem expectador algum.
Matheus Yuri Terassi é estudante, mas antes de tudo, é filho e poeta. Arte e artista. Siga o matheus no Instagram!
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Quanta sensibilidade! Foi uma maravilha ler um texto tão belo.