A imagem como documento, portanto como cultura visual, é de suma importância para o ensino de História (principalmente da arte), devido ao seu potencial cognitivo. Ademais, segundo Eduardo França Paiva, as representações imagéticas possuem códigos, símbolos, emblemas, alegorias, mas esses signos não são absolutos, definitivos, fixos, nem imutáveis. Tudo vai depender da recepção que eles terão em cada época, no seio de cada grupo social e, também das variadas maneiras pelas quais serão apropriados historicamente.
Nesse complexo processo de recepção, divulgação, apropriação e resinificação das imagens no tempo e no espaço é preciso salientar alguns aspectos fundamentais. O primeiro é, talvez, reiterar, de maneira explícita, o fato de as representações integrarem a dimensão do real, do cotidiano, da história vivenciada (PAIVA, 2002: 26). O imaginário não é, como se poderia pensar, um mundo à parte da realidade histórica, uma coisa abstrata que não faz parte de nosso mundo e de nossas vidas:
Ao contrário, esse campo icônico e figurativo influencia, diretamente, nossos julgamentos; nossas formas de viver; de trabalhar; de morar; de nos vestirmos; de nos alimentarmos; de compararmos as coisas; de expressarmos nossas crenças, sejam elas religiosas, políticas ou morais; de nos organizarmos em nosso cotidiano; de escolhermos nossas atividades e profissões; de construirmos nossas práticas culturais e de novamente representarmos o mundo em que vivemos, em toda sua diversidade e complexidade (PAIVA, 2002: 26-27).
Outro ponto que precisa ficar claro é no que tange às categorias históricas de permanência e ruptura. O jogo estabelecido entre as mudanças e permanências históricas no que se refere aos valores, gostos, ideias, conhecimentos, referências e padrões é uma das chaves principais para que se possa compreender melhor a história das imagens e a nossa relação intensa com elas, ao longo dos séculos. Igualmente, é esse jogo que nos possibilita entender porque algumas imagens continuam sendo referenciais para nós, depois de séculos ou de milênios, e porque outras se perderam ou ficaram restritas a grupos específicos e, junto a isso, entender em que medida essas relações determinam nosso passado, presente e, também, nosso futuro (PAIVA, 2002: 27).
Diante disso, a imagem pensada como artefato cultural expressa valores de uma determinada sociedade, nos remete ao seu imaginário social, podendo assim trazer a tona as teias culturais do tempo e espaço estudados. A iconografia tem sido cada vez mais utilizada pela História Cultural para o estudo das representações das ações humanas na história. Os registros históricos por meio de imagens têm proporcionado o confronto e diálogo com outros documentos, contribuindo com o uso da linguagem visual no ensino dessa disciplina. Portanto, tanto a narrativa textual quanto a imagética possuem saberes específicos, já que o ato de ler possui seu simbolismo de códigos, analogias e convenções; ao passo que a imagem também se compõe de técnicas, regras, convenções e formas de educação do olhar que precisavam ser decifradas, se se quer buscar uma inteligibilidade plausível para uma determinada sociedade.
PAIVA, Eduardo França. História & imagens. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
Vítor Bicalho Mota é licenciado e bacharel em História pela Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ) desde 2017. Em 2019 concluiu o Mestrado em História pela mesma instituição (Área de concentração: Cultura e Poder).
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