Estamos de quarenta, Maria. Pelas contas de meu ábaco, só nos veremos novamente em 2024, ou 2036, ou em 1944. Até lá pretendo já ter me formado em alguma coisa, E desejo também que você vença seu medo. Pensei em cavar um bunker para proteção particular ante a possibilidade de um encontro fortuito nessa ou naquela livraria, mas, quer saber? Não é preciso. A guerra está ganha. Posso profetizar de trás para frente. Já não uso botas, meus pés doem, caminho de sandálias bem debaixo do Sol. Como o oceano nos separa, não nos veremos, Porém, caso isso aconteça por algum acidente, finja que sou uma alma penada. Pode ficar desnorteada. Sei que você não é pedra, é argila fresca. Só que sou cinzel. E sou martelo. E pólvora. Não se lembre, ou melhor, lembre sim. Sem os apegos pequenos o tempo é uma peneira grossa. Observa o incêndio que purifica o campo. A tormenta que deságua no mar. Os russos admiradores de Nicolau II.. Não sou seu pai. Nem seu pai é. Nem o pai de seu pai. Continua buscando, então. O que são alguns anos para quem esperou 59? Até logo, Maria, já não há tempo para Onan Brincar com o gozo do desamparo. Até breve.
Vinícius Lara é historiador, fotógrafo amador e um apaixonado pelo absurdo.
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