Eu acredito no afeto. Acredito mesmo que o carinho e o amor transformam. Destacá-los em meu trabalho é a maneira que descobri para fazer o que eu faço.
Acredito no humano. Acredito no que nos torna humanos, na humanidade dos gestos.
Acredito na cultura. Acredito nas cores. Acredito nas caras. Acredito nas casas. Acredito no interior. Acredito na fé, apesar de não acreditar em religião.
Acredito na natureza, talvez seja a que mais acredito. Acredito no sol e na chuva, na lua e no vento. Acredito no que os olhos não veem.
Acredito nos artistas. Acredito em artistas que nascem artistas. Acredito em artistas que se expressam transbordando sentimento.
Acredito no povo. Acredito nas pessoas. Acredito demais, às vezes. Mas esse acreditar é vital para meu processo criativo e reflexivo. Acredito na minha ingenuidade pois ela me trás mais sensibilidade.
Acredito nas crianças, me identifico com elas. Acredito em seus olhares e em seus atos. Acredito no que elas acreditam.
Acredito em quem se mobiliza e se engaja, quem é curioso para viver e conhecer outras realidades. Acredito que viajar me mantém vivo.
Não acredito em armas. Não acredito em sangue. Não acredito em histórias mal contadas.
Não acredito no sistema policial, não acredito em fotojornalista de direita, não acredito que jornalismo seja imparcial, porque é um recorte de um indivíduo.
Não acredito em estereótipos, mas acredito em clichês. A tentativa é evitá-los, no entanto.
Não acredito no formato educacional vigente. Acredito que o período escolar foi definitivo para moldar minha personalidade e acredito que essa fase das nossas vidas merece um melhor cuidado.
Acredito em quem não tem sobrenome mas sei que no sistema prevalece quem tem. Por uma época, fui “sobrinho” de uma jornalista influente em parte do Rio. Éramos amigos, mas ela tinha 50 anos e eu 15, então viramos tia e sobrinho. Percebi como as pessoas te olham diferente quando te identificam parte da elite.
Não acredito em ambientes elitistas, consequentemente. Não acredito em quem faz política da casa do Caetano Veloso na Vieira Souto. Acredito, porém, na responsabilidade social que as pessoas famosas tem.
Não acredito que fama legitima. Acredito que fama amplifica, ou seja, aumenta a responsabilidade. Acredito que trabalho feito com responsabilidade legitima.
Não acredito no photoshop, não acredito em limpeza de pele e “aperfeiçoamento” dos traços. Não acredito nos “modelos” que a indústria propõe.
Não acredito quando a motivação é a vaidade. Acredito que o foco do meu trabalho são as histórias que estou documentando. Acredito que os fotografados detêm o poder da narrativa, não eu.
Não acredito em rede social. Atualmente elas validam muita coisa sem validade — e o contrário também. Não acredito em comentários que endeusam e nem acredito em comentários que detonam. Acredito no trabalho que faço.
Acredito na troca, no crescimento coletivo. Acredito em menos julgamento e mais entendimento. Acredito em diversas verdades, não apenas a minha.
Acredito piamente na conversa. Acredito que ela é a base da democracia. Acredito na conversa como troca de ideias com abertura para reflexão. Não acredito em tentativas de convencimento (nem de cancelamento).
Acredito em trabalhos que chegam porque querem meu olhar e não porque foi o menor orçamento. Acredito em quem responde emails, mesmo com negativas. Acredito na gentileza.
Não acredito tanto em equipamento. Acredito em olho. Acredito em tecnologia como ferramenta para nos ajudar a chegar mais longe, mas acredito mais na sensibilidade do olhar.
Acredito no olhar feminino, principalmente. Acredito muito na maneira como as mulheres olham o mundo e acredito que a fotografia e o audiovisual precisam de mais mulheres colocando suas visões.
Não acredito tanto em homens héteros da fotografia como já acreditei. Algumas de minhas referências mudaram, alguns olhares se tornaram mais críticos. Acredito em atualizar referências.
Não acredito em quem faz fotografia para inflar o ego. Não acredito em quem faz fotografia por prêmios, nem por dinheiro. Não acredito em quem não entende que o fotojornalismo é necessariamente voltado para o outro.
Acredito em fotojornalista gay. Acredito em diretor de novela negro. Acredito em cineasta indígena. Acredito que veremos mais diversidade em um futuro que se aproxima porque aprendi que é na resistência que crescemos.
Acredito em um futuro mais diverso para a fotografia, menos machista e menos elitista. Acredito em menos violência e mais afeto. Em menos coragem para estar no front e mais coragem para expor nossas próprias vulnerabilidades.
Acredito que nossa fotografia melhora conforme nós melhoramos como seres humanos.
(texto escrito em 28/02/2020)
Lucas Landau is a self-taught 30-year-old photographer born and based in Rio de Janeiro, covering socio-environmental conflicts in Brazil and their resistance processes.
Naturally curious, he believes he was born a photographer. Since he was 12 years old he tries to make sense of the world around him through a camera, always looking from the perspective of hope and dignity, despite the chaotic contexts.
Landau worked as fashion photographer for 11 years and since 2017 he is totally focused on photojournalism and documentary photography, working as an independent visual storyteller (and sometimes as writer as well).
He became a Reuters stringer photographer in 2013, during the street protests in Brazil, and he is a contributor to El País, The Wall Street Journal and BBC Brasil.
Lucas Landau é fotógrafo de 30 anos autodidata, nascido e criado no Rio de Janeiro, cobrindo conflitos socioambientais no Brasil e seus processos de resistência.
Naturalmente curioso, ele acredita que nasceu fotógrafo. Desde os 12 anos, tenta entender o mundo à sua volta através de uma câmera, sempre olhando pela perspectiva da esperança e da dignidade, apesar dos contextos caóticos.
Landau trabalha como fotógrafo de moda há 11 anos e, desde 2017, está totalmente focado em fotojornalismo e fotografia documental, trabalhando como contador de histórias visual independente (e às vezes também como escritor).
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Ele se tornou fotógrafo correspondente da Reuters em 2013, durante os protestos de rua no Brasil, e é colaborador do El País, do Wall Street Journal e da BBC Brasil.
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