Segue a tríade dos autores Jessé Souza, Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes como a melhor síntese da sociedade brasileira, eviscerada no mais recente embate interno da burguesia brasileira, que começa a ser travado entre Jair Bolsonaro e Sérgio Moro. Ambos charlatães da política e das oligarquias brasileiras, usam de suas armas para encontrarem-se com o poder e disputar o amparo dos setores econômicos que dominam o Brasil desde a colônia.
Segundo Darcy Ribeiro, sociólogo e antropólogo cujo pensamento é base para o entendimento contemporâneo das relações étnicas do Brasil, a condição social brasileira é produto direto do extermínio e da escravização de povos indígenas e africanos, que legaram entendimento de superioridade pelos brancos colonizadores. Naturalizada durante o tempo, a opressão étnica, tal como ocorre com mulheres e homens, relações hétero e homoafetivas, foi da realidade ao simbólico, deixando de ser percebida por ser considerada um dado que lhe era inerente. Assim Jessé chama a condição social da subcidadania, definida em obra homônima que completa o pensamento de Darcy no cânone “O Povo Brasileiro”.
Daí, Florestan Fernandes define que tais relações implicam uma relação econômica brasileira em que o que importa não é produzir para a competitividade, mas usar da ilusão coletiva de superioridade pela oligarquia brasileira para estabelecer relações de exploração interna que garantam a perpetuidade da soberania oligárquica. Para tornar viável o sistema, estabelece-se uma conexão com o capital externo em que as riquezas exploradas internamente são fornecidas para o desenvolvimento de parceiros mais ricos – ou colonizadores. O que importa é que a essa relação, Florestan nomeia “capitalismo dependente”, isto é, estrutura econômica servil ao capital externo exploradora da mão-de-obra interna, que não gera crescimento nem competitividade necessários sequer para a “Revolução Burguesa no Brasil”, nome da obra, quanto mais para a proletária.
Nesse contexto, Moro e Bolsonaro são a mesma elite do capital dependente, serviçais das economias centrais, nesse caso abertamente aos Estados Unidos. E por assentarem-se na dependência, travam uma batalha para deter um projeto de país que incentive a competição interna e se desenvolva para a externa, em prejuízo a eles, sim, mas sobretudo àqueles a quem representam, dentro e fora do país.
Entre ambos, viva a briga. Mas não deixa de ser fina ironia que, na semana em que se engalfinham os dois carrascos da economia nacional, os generais que tomam o controle em meio ao caos se vejam obrigados a estabelecer um projeto desenvolvimentista para o pós-crise, o que não ocorre pela primeira vez em nossa história. Gostemos ou não, a mão de ferro dos militares é protagonista em vários momentos do desenvolvimento nacional (distribuição de renda e direitos civis são outra história). E, de quebra, recebem de volta uma Embraer combalida, pronta para ser estatizada.
A saber…
Hélio de Mendonça Rocha é jornalista. Atua como repórter de meio ambiente e direitos sociais para a revista Plurale e como analista político para os jornais Brasil 247 e El Siglo de Chile. Foi correspondente internacional na China em 2019.
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