A moral e os bons costumes enfim tiveram seus defensores elevados ao status a tanto desejado, os comandantes da nação. (coronéis)
Nada de novo debaixo do sol, a mesma política, o mesmo álibi, a mesma balsa furada.
Os monarcas acreditavam piamente que seu poder era um direito divino, em uma base para governar e criar um mundo à sua semelhança. Talvez não à semelhança, visto que fome, doenças e miséria pairavam entre a maioria das populações submetidas a um governo divino que era zelado pelo monarca.
Não existe espaço para essa lorota nos dias de hoje, ou não deveria existir, mas parece que o desejo por poder tem tragado até os “defensores da vida”.
A base governamental em nossa Zombieland é a de um grupo de pessoas que criticam tudo o que não corresponde ao seu projeto de poder. Um grupo de líderes “protestantes” se reuniu para assinar um documento contra o endeusamento da ciência – sim, meus caros, contra o endeusamento daquilo que é a base do conhecimento para tudo que formou o nosso mundo.
A história é cíclica. Alguns séculos atrás, a ciência era refém do estado que era servo, (REFÉM) da igreja. O projeto hoje é o mesmo; a ciência não pode contrariar o governo, o aquecimento global não existe, a terra é plana, vacinas são usadas para nos manipular e editar nosso código genético para sermos alvos fáceis do 5G.
Parece uma nova temporada de Arquivo X (saudades Mulder e Scully), mas é a nossa vida indo para o ralo.
E existe um problema sério em tudo isso: a falta de resistência.
Estamos diante de um projeto fascista, autoritário, que visa a perpetuação de direitos “divinos” ao Clero, poder e direito divino aos novos monarcas, uma verdadeira ditadura se levanta, se legitima na fé e toma a ciência como inimiga maior. Ou seja, o conhecimento é inimigo do governo.
Os ataques vieram através de cortes de verbas das universidades federais, dos museus, das bolsas de pesquisa. O conhecimento que provou que a terra era redonda, que nos deu a tecnologia, que nos permite usar redes sociais, vêm todos baseados em questões das faculdades de humanidades. O conhecimento técnico, as exatas, são alicerçadas na premissa dos relacionamentos humanos, que percebem o seu contexto, o seu entorno, e formulam cálculos e fórmulas matemáticas para a composição de medicamentos que serão usados para a cura de enfermidades, a cura de feridas que por vezes são causadas através de dilemas existenciais.
É preciso então resistir como força de conhecimento, conhecimento que cria estratégias, une disciplinas, cria pontes, gera uma declaração de unidade contra um mal comum, o fascismo brasileiro.
Na edição passada, mencionei a não violência de Tolstoi e Gandhi: uma forma muito eficaz de se fortalecer valores de preservação da vida, que são a base sagrada de muitas religiões. Hoje, no entanto, quero compartilhar um contraponto na figura de Dietrich Bonhoeffer, pastor e teólogo alemão que até flertou com o nacionalismo em uma parte da sua vida, mas entendeu que era necessário cuidar e preservar a vida daqueles que não tinham espaço na sociedade da época.
Diante de um país fragmentado, o que a campanha nazista fez foi apresentar uma liderança religiosa unida, com novos símbolos, “desmascarando” inimigos do estado que estariam ajudando a roubar o dinheiro da nação, prendendo pastores e padres que estariam motivando greves e ensinando valores “profanos” e contrários que poderiam prejudicar e dividir famílias assim como a guerra o fizera menos de duas décadas antes.
O cenário é parecido, no Brasil de hoje. A base protestante continua ignorando o apelo de cientistas ao redor do mundo. Os líderes da bancada evangélica seguem eliminando a resistência, atacando e difamando os líderes de oposição por meio de um trabalho sujo, que atribui títulos de inimigos da fé, da moral e dos bons costumes.
Fato curioso sobre nosso personagem é que o mesmo participou de um dos planos de tentar matar o ditador e genocida nazista – o que não deu certo, obviamente – e, por isso, foi preso e executado pouco tempo antes de Hitler se matar.
Esse texto, claro, não é um convite nem sugestão que se crie um plano contra a vida do cidadão que tem empurrado o carro chamado Brasil. No entanto, quero propor um convite a construção de algo sólido e que supere os achismos pessoas de cada religião, pois o que está em jogo nesse momento é a vida de cada um de nós.
É um convite a uma nova construção. Não de notas de repúdio, mas a uma ação mais incisiva. O que poderia ser? Eu não sei. Mas sei que não é hora de ficarmos em discursos de “eu votei no fulano ou sicrano”. Estamos presos contra a parede e, ainda assim, podemos mudar tudo. Basta a famigerada #FocoForçaFé para destronar os monarcas que nos oprimem e nos amedrontam com raios.
Kariston França é apaixonado por pizza, e nas horas vagas atua como entusiasta da teologia pública.
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