Fonte, só vale se for a da juventude

O que o ser humano mais parece buscar é uma fonte de vida eterna, ou algo que prolongue ainda mais os seus dias; mas para ganharmos medicamentos e as tecnologias que nos proporcionam, hoje, curar ferimentos e outras enfermidades, vidas foram esvaziadas.

Durante a história, os sacrifícios foram feitos para a manutenção das figuras poderosas e quase divinas que alcançaram um poder social. Tais figuras político-celestiais se aproveitavam dos momentos para perpetuarem a ideia de um mito poderoso, que precisaria do esforço (sacrifício) comum para resolver o problema.

O feito maior era deles: o de aglutinar pessoas.

Mas isso não tem muito a ver com meu pensamento para o texto hoje. Eu estou mais preocupado com o novo mito da fonte da juventude.

O primeiro ponto é que me preocupa a FONTE FANTASIOSA do “estou pesquisando alguns autores que dizem X” ou o “pesquisei num site Y”; busca essa que se resume aos dois primeiros links do google e, pra não parecer preguiçoso, o pesquisador moderno abre a terceira página de resultados – apenas para ampliar o argumento e o trabalho de construir um pensamento.

Achar uma fonte da juventude é difícil; achar uma fonte para um debate que for, também é. Talvez não tão difícil quanto, mas dá um certo trabalho conhecer autores e entender suas motivações. Porém, parece que isso, ainda assim, é simples e fácil para os pesquisadores modernos.

Outro ponto que me preocupa é a construção quase divina que nosso presidente eleito faz de sua jovialidade.

Eu amo uma conspiração, e vou dizer: se o meme com o Michel Temer já era uma associação malévola (nada contra a Malévola, diva do cinema que eu, particularmente, gosto muito), a característica que o tal “MITO” ganha é a de um ser que necessita de sangue para viver, um verdadeiro vampiro – mais vampiresco que o próprio Temer, que, visualmente, era a vítima perfeita do meme. Sangue tem sido exigido para que seu “porte atlético” se torne a propaganda perfeita contra a tal “gripezinha”.

Segundo o Hemominas, uma pessoa possui em média de 5 litros de sangue. Até o momento em que o presente texto foi escrito, 36.044 pessoas vieram a óbito pelo COVID-19 – o que daria, aproximadamente, 180.220 litros de sangue (se todos tivessem a mesma quantidade de sangue).

É um ritual místico que dá forças para seguir manipulando os seus lacaios.

Ao que parece, o #ForaTemer foi igual jogo de RPG: matamos o mensageiro para lidar com o chefão que exigia tantos sacrifícios. A sensação é que vamos precisar elevar o nível de nossas capacidades para determos o “MALAMÉM”1. Me parece que a fonte de poder de nosso “MALAMÉM” está no sangue de inocentes.

O caráter místico segue a onda de domínio graças ao apoio de diversos líderes de algumas estruturas religiosas estabelecidas em nosso país.

Sanguessugas buscam poder, dinheiro e “segurança” para seus reinos espirituais, como se houvesse uma sede, uma necessidade de o defenderem de algo maior.

Não faz sentido, por exemplo, um cristão achar que um governo “comunista” o privaria de professar sua fé. Isso tudo soa mais como uma falta de fé no seu deus, visto que o princípio regulador da sua salvação final está atrelado a ideia de perseguição, sofrimento e morte.

A falta de fé do crente é perturbadora, gera uma opressão aos demais grupos religiosos e os tornam perpetuadores do seu “Apocalipse” com outros personagens. Nesse caso, as vítimas no Apocalipse seriam as pessoas que professam outra crença, dentro do cristianismo e fora dele. O cristão brasileiro então, no fundo, parece não crer em sua própria fé; vive em busca de uma fonte da juventude, anula o caráter básico da sua crença que é o plano de salvação e a restauração de tudo. É por isso que a fonte da juventude é a alusão perfeita: no lugar de um Deus de AMOR, vemos pequenos deuses buscando uma eternidade e domínio às custas de vidas inocentes, da liberdade de expressão e da igualdade entre todos os indivíduos.

Esse é um desabafo de alguém que está cansado; chorando pelos amigos que ficaram pelo caminho, pelos desconhecidos de mim, mas conhecidos de outros, que se perderam na fonte da juventude atlética do nosso governo FASCISTA!


1 A referência é uma piada:  a professora pergunta aos alunos sobre o que eles mais temem. Um fala da mula-sem cabeça, outra fala do bicho papão, e todos esses a professora desmente a existência. Chegando a vez do Joãozinho, ele fala que tem medo do “malamém”. A professora, sem entender, o pergunta quem é esse sujeito; o Joãozinho então a explica que a mãe, ao orar, diz assim: “mas livra-nos do malamém”.


Kariston França é apaixonado por pizza, e nas horas vagas atua como entusiasta da teologia pública.



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