eu queria saber se distanciamento era de fato necessário, causado por algum motivo não determinado, superveniente, inevitável, irresistível e fora do alcance humano. porque se fosse assim, seria totalmente justificável. houve algum afeto do qual não me lembro? alguma coisinha de nada que tivesse ficado no fundo de uma gaveta? um convite extraviado? você, você, você são tantos que pra você, um eu são eus você que tem em seu bolso direito a primeira inconfidência e em seu bolso esquerdo o primeiro susto, daqueles que deixam as bichas da barriga atacadas. em sua mão direita, a minha esquerda que se derretia e se refazia e voltava a se derreter durante as orações durante a subida até o topo do monte de onde pendem as cruzes, todas elas que é onde as coisas terminam ou nunca começam onde encontramos um motivo cruz-credo concreto o suficiente para jogar os móveis pela janela. houve algum afeto do qual não me lembro? alguma coisinha de nada que tivesse ficado no fundo de uma gaveta? um convite extraviado? você, você, você.
Deborah Vieira é formada em Letras pela Universidade Federal de Pelotas e é mestranda em Literatura pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Acompanhe a Déborah no Instagram.
Fotografia por: Carolina Ferreira.
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