Editorial – Orgulho é Luta

Todos nós, em alguma medida, queremos nos sentir parte de algo. Queremos olhar para o lado (ou para frente, ou para trás, ou para cima) e enxergar um semelhante, algo ou alguém que nos faça sentir que pertencemos, que a nossa maneira de ser é boa. Assim, enquanto seres humanos, vivemos em grupos sociais, nos quais os indivíduos carregam traços comuns de pensamento e de vivência, oferecem apoio e incentivo uns aos outros.

Porém, quando grupos são formados pela tentativa de resistência à violência comum que sofrem, faz-se necessário que cada voz seja ouvida para que possamos ser mais do que uma negação.

Oi, eu sou a Carol. Eu não sou a editora que vocês costumam ler no texto Editorial da Trama, mas espero que comprem a minha proposta, que é a de utilizar a ferramenta da representatividade para que cada um dos que chamo de “meus” e “nossos” possa se sentir hoje, no dia dedicado a nos orgulharmos de quem somos, apoiado e inteiro; muito mais do que apenas a negação do heterossexual e do cisgênero.

De acordo com o dicionário do Google, representatividade é a “qualidade de alguém, de um partido, de um grupo ou de um sindicato, cujo embasamento na população faz que ele possa exprimir-se verdadeiramente em seu nome”. Mas quando tratamos da população LGBT+, existe um problema em trabalharmos com essa definição, uma vez que ela delimita um representante. E quem vai se dispor a representar a totalidade de um grupo tão diverso? Algumas militâncias de homens gays vêm tentando há alguns anos. Eu diria que é uma coragem que beira a loucura. Ora, só na nomenclatura oficial documentada do grupo (LGBT+), nós já somos, no mínimo, cinco vivências completamente diferentes; precisaríamos, então, de pelo menos cinco representantes que pudessem falar por nós, sem considerar quaisquer outros recortes sociais.

Além disso, temos o mau hábito de pensar a representação como algo necessariamente atrelado ao âmbito político formal, de reivindicações e discussões. Nisso, esquecemos que a felicidade dos nossos pares, o Orgulho que sentem de si mesmos, em suas vivências individuais, também representam algo para cada um de nós. Ser LGBT não é só militância formal e ativa, dizendo que temos direitos e vamos lutar por suas garantias. Cada poema “bobinho” de amor, cada expressão de auto-afirmação pessoal também é representação, forma de demarcar de existimos e estamos presentes, de demandarmos respeito. Como diz uma grande inspiração que, coincidentemente, faz aniversário hoje, “até gozando, eu faço política pública”.

Oi, pode me chamar de Cadi. Sou mulher cisgênera bissexual. A minha bissexualidade não se separa de mim, e eu não me separo dela. Eu, aqui, represento os, es, as minhas pares.

Bissexual não é tudo o que eu sou; mas tudo que vem de mim é, também, bissexual. É, também, LGBT+, na medida em que é possível gerar reconhecimento para toda essa diversidade na minha imagem. E sabe o Orgulho? Ah, eu tenho ele.

Minha felicidade é luta. E celebrar quem eu sou, quem você é, quem nós somos é, talvez, a forma mais bonita que eu tenho de lutar. Essa edição da Trama busca celebrar cada um de nós, fazer com que nos orgulhemos cada vez mais do que somos, e tornar a nossa luta um pouco mais bela no dia de hoje.


Carol Cadinelli é uma mulher cisgênera bissexual. Jornalista, apaixonada por palavras. Escreve, edita, revisa, traduz e, vez ou outra, fotografa. Atua como Social Media na Peregrina Digital, assistente de edição na Trama e escritora nas horas vagas.


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