Entrevista e fotos: Claudine Miranda
Introdução: Carol Cadinelli
Toda fotografia carrega em si uma gama de histórias; entre elas, a história por trás do olhar que fotografa e a história por trás dos corpos que posam. Essas, talvez, sejam as histórias que mais impactam o significado de cada fotografia e, assim, o retrato de mulheres lésbicas feito por mulheres lésbicas traz particularidades que só a vivência de todas as experiências que constroem a existência lésbica única de cada uma pode moldar nas expressões.
Lésbica, a fotógrafa Claudine Miranda traz, em seu primeiro ensaio temático LGBT, a história de Shandra e Ananda, que posam não para uma lente, mas para uma tela (mais uma vez, a História influencia a arte). E mais do que suas poses e sua representatividade visual, a artista traz também suas vozes, suas histórias contadas, suas lesbianidades conjuntas, afetivas e, acima de tudo, felizes.
1) Como vocês se conheceram?
Shandra: Tudo começou com meus pais e a mãe e o padrasto de Ananda. Meu pai fazia cover do Raul Seixas e minha mãe tocava com ele; o padrasto e a mãe de Ananda, por serem fãs do Raul, abriram uma lanchonete chamada Raul Burguer na rua da casa da minha avó. Fui lanchar lá com meus pais depois de um show deles e conheci a mãe, o padrasto e a irmã de Ananda. Um certo dia, eu passando pela lanchonete, a mãe de Ananda me chama pra finalmente conhecer Ananda. Foi um momento mágico, tudo ficou em câmera lenta.
2) Há quanto tempo estão juntas?
Ananda: Estamos juntas desde nosso primeiro beijo. Isso aconteceu no dia 16 de outubro de 2016, o que dá 3 anos e 8 meses grudadinhas.
3) Como é a relação de vocês?
Ananda: É uma relação bem gostosa, porque a gente sempre coloca o diálogo como prioridade, conversando sobre tudo. Então somos completamente sinceras uma com a outra, abertas e compreensivas. Mas isso não quer dizer que a gente não brigue… Como todo casal nós também temos nossas desavenças, porém, nada que uma boa conversa com calma não possa resolver.
4) E os seus pais, o que dizem sobre isso?
Shandra: São bem tranquilos. Meus pais reagiram completamente normal, até porque já sou assumida desde os 15 anos. Os de Ananda ficaram um pouco chocados no início, até porque foi quando ela se assumiu… Mas levaram tudo numa boa. Hoje moramos eu, Ananda, minha mãe e minha tia mais nova, todas juntas no apartamento, e parecemos quatro amigas dividindo casa. Minha sogra vem nos visitar, e aí já são cinco amigas (risos)
5) Vocês pensam em ter filhos futuramente?
Ananda: Sim! Com toda certeza. Assim que a gente conseguir uma estabilidade financeira, iremos atrás disso. Queremos ter três meninas, não importa a forma, seja adoção, inseminação e etc, mas queremos ter condições para ter três.
6) O que vocês acharam das fotografias e de terem sido fotografadas por uma mulher lésbica?
Ananda: Foi uma experiência bem interessante, esse lance de fotografia por vídeo-chamada. E a questão de ter sido uma fotógrafa lésbica foi ainda mais interessante, pois a representatividade importa muito. Isso encoraja as pessoas a não ter medo de ser quem são e ir atrás de seus sonhos, pois estamos conquistando nossos espaços.
7) Quais as diferença que vocês veem entre casais lésbico e hétero?
Shan: Olha, no geral, não tem diferença. É amor como qualquer outro, é um relacionamento movido a amor. Por mais que cada um demostre o amor de uma maneira, tenha sua própria forma de amar, o amor em si, ele é igual pra todo mundo. O amor, ele é um sentimento único. Mas,digamos que, por sermos duas mulheres, temos algumas vantagens em questão de comunicação e, principalmente, compreensão.
Claudine Miranda é uma mulher lésbica cis. É fotógrafa e videomaker em Recife. Acompanhe o seu trabalho no Instagram.
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