“Não tem um boteco nessa cidade em que eu não tenha falado de você”.
Faz alguns anos desde que essa frase invadiu nossa vida. A Bruna estava chorando no meio da Av. Paulista no começo de 2018 quando a viu pela primeira vez. Tinha acabado de assistir Call Me By Your Name (2017) e mandou um áudio para o Gabriel dizendo: “precisamos fazer um filme sobre isso”.
Muita coisa já mudou desde então, inclusive as prioridades do coração; mas o fato de encontrarmos refúgio no amor permanece. E o fato de os botecos cariocas serem palco dos maiores monólogos sobre essas histórias que carregamos também. Por isso, na época, juntamos uma galera que ama demais, já levou bordoada do amor demais, já ouviu histórias demais, mas mesmo assim nunca desistiu de amar, para descobrir o que sobra de uma história de amor.
Em meio à atmosfera boêmia dos recantos da cidade do Rio de Janeiro, lembranças são compartilhadas pelos bares em conversas descontraídas. Sete histórias e três bares se costuram através de suspiros, lágrimas e risos, enquanto narrativa e imagem se atravessam. Pusemos em cena jovens LGBTQs conversando com pessoas mais velhas. No filme, confrontamos diferentes aventuras e perspectivas sobre o ato de se apaixonar e suas consequências. Introduzimos a mesma pauta em todas as conversas; todavia, o desdobramento em cada dupla é singular. A experiência permitiu à equipe ver com outros olhos um exercício de oralidade tão místico e ancestral quanto cotidiano em nossas relações humanas.
Desde a pré-produção, fomos instigados a revisitar nossas próprias histórias para oferecê-las ao mundo. Pensar em como elas se ressignificaram ao longo do processo tornou o curta não só um discurso, mas um movimento de auto conhecimento. Nos enxergamos, ali, como protagonistas das nossas próprias histórias; afinal, quando se fala do outro, estamos, acima de tudo, falando de nós. Pensar no Boteco quase dois anos após sua produção é olhar com carinho renovado para o que foi o início de nossas carreiras como cineastas e, também, sobre a importância de abrir, com nossas forças, novos espaços para as pluralidades do afeto. Por mais convidativas que sejam, as ruas do Rio de Janeiro também são labirintos contraditórios, e fazer arte dentro de sua geografia é uma tarefa de apropriação da cidade, capturando nela o que ela fez de nós.
Bruna Amorim é uma mulher bissexual cis. É cineasta, nascida interior de São Paulo. Seu cinema particular celebra a memória, a troca, e a ressignificação de espaços, pessoas e objetos, tendo como ponto central questões de gênero, sexualidade e diversidade. Cursa Cinema na PUC-Rio, e trabalha com concepção e realização de projetos audiovisuais. Nos últimos anos produziu, dirigiu e montou curtas documentários, experimentais, ficcionais, videoclipes e institucionais. Conheça o portfólio da artista.
Gabriel Galvão é um homem bissexual cis. É cineasta pela PUC-Rio.
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