A representatividade que temos hoje, já é maior do que as referências que eu tive na minha infância (dos anos 2000 a 2005). E provavelmente, eu já tive acesso mídias com uma maior representação de ícones LGBTQ+ do que as gerações passadas. E eu fico com o coração quentinho por saber que a geração atual, e as próximas gerações terão uma presença maior de mulheres que amam mulheres nos seus meios de entretenimento.
As crianças começam a formar suas opiniões baseadas na vivência e experiências que absorvem de pessoas e conteúdos que têm alcance. Na minha infância, me lembro de amar assistir aos episódios de “Xena, a Princesa Guerreira”, porque meu nome fora homenagem a uma das protagonistas. Foi um choque para a Gabriele de 11 anos saber que as duas personagens tinham uma relação maior do que amizade, embora esse não fosse o foco principal da série.
Em algumas tardes, eu me isolava no computador e, com cuidado, pesquisava a respeito da série, para saber mais informações, e ficava admirando imagens das duas de mãos dadas, ou um simples abraço – nessa fase, eu já me questionava a respeito da minha sexualidade, da forma de criança, buscando entender mais o que estava acontecendo na minha mente e com meus sentimentos (durante toda a minha vida, eu não tive contato com a comunidade LGBTQ+ e nem tinha conhecimento sobre os assuntos tratados). Foram longas tardes pesquisando, lendo blogs e assistindo vídeos sobre a comunidade como um todo; porém, o assunto que mais me interessava eram as relações sáficas*. A série da Xena foi como um portal que se abriu para mim: fui conhecendo outras séries, romances, e até fanfictions* com romances entre mulheres.
Foi na internet que encontrei essa representatividade da qual eu sempre precisei, e a web provavelmente era a única zona “segura” para muitos desses criadores de conteúdos exporem seus trabalhos.
Um dos marco que considero importantíssimo dessa representatividade na mídia foi o final da série A Lenda de Korra (2012-2014), uma série de animação produzida pela Nickelodeon e que traz, nos episódios finais, a confirmação do relacionamento de Korra e Asami, duas personagens principais na série. Através dessa animação, outras portas se abriram para produções similares, como Steven Universe, She-Ra e até mesmo Hora de Aventura. Todas essas produções possuem um público alvo infanto-juvenil, o que nos trás uma perspectiva positiva sobre a presença de personagens LGBTQ+ em mídias desse gênero, contribuindo para o auto reconhecimento de crianças e jovens.
Atualmente, nós temos muitas referências em criadores de conteúdo independentes, inclusive no cenário nacional. A presença de quadrinistas como Camila Abdanur e Dani Frank, que trazem conteúdos bacanas sobre relacionamentos sáficos em seus trabalhos, influenciam mais artistas (eu, entre elas) a investir em conteúdos próprios como representatividade!
Essa presença na mídia nos torna válidas, garante um local de fala, nos dão visibilidade… E para aquelas que ainda estão se descobrindo, essa representatividade é uma forma de se identificar, e de compreender a si mesma de forma mais tranquila, como foi para mim.
*Sáfica/Sáficas: O termo é um modo abrangente de se referir a mulheres que se relacionam com mulheres, englobando lésbicas, bissexuais e pansexuais. Ele vem de Safo, uma poetisa grega que viveu na ilha de Lesbos e escrevia romances entre mulheres.
*Fanfictions: histórias baseadas em séries, livros, filmes e até famosos, criadas por fãs.
Gabi Oliveira é uma mulher lésbica cisgênera. Designer e autora de ficção científica independente, se dedica a projetos que misturam a comunicação, o artístico e o cultural, dando um toque único e especial para cada um deles. Você pode acompanhar o trabalho dela no Instagram.
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