“Tal como o passado, o futuro será feito à mão” – disseram. E cá estamos, tentando fazer esse futuro acontecer.
Não é novidade para ninguém que a indústria da moda é uma das que mais gera poluentes, e que a indústria em larga escala, de forma geral, contribui ativamente para a destruição da diversidade biológica. Porém, o que muita gente não se lembra é que também a diversidade cultural é profundamente prejudicada por esse processo. Através da padronização dos hábitos de consumo em todas as áreas – desde a alimentação até o estilo e a decoração -, a produção globalizada de insumos vem apagando tradições milenares, que remontam histórias e culturas que compõem ativamente o que somos hoje enquanto brasileiros.
É claro, esse processo não é exclusivo da nossa pátria amada; nos países com os quais tivemos contato – Índia, Peru e Uganda, por exemplo -, o processo é o mesmo. O que se vê são culturas tradicionais de artesanato sendo extintas pela globalização dos hábitos de consumo e pela produção em massa; e, como consequência, famílias que carregam a tradição do artesanato em seu seio perdendo suas únicas fontes de renda para empresas bilionárias. Nisso, o planeta vai junto.
Na esperança de uma reviravolta na cultura de consumo capitalista, empreendedores e ativistas do Slow Fashion (alternativa socioambiental mais sustentável no universo da moda) investem sua energia na propagação de uma mentalidade de consumo mais responsável e racional. A ideia é a de que não precisamos de indústrias globais para suprir as nossas necessidades, sejam elas quais forem. Se pegarmos a própria Juiz de Fora como exemplo, já é possível perceber isso. É só dar uma pesquisada no Instagram, e você será capaz de encontrar, aqui, produtores ou vendedores locais que possam atender às necessidades mais específicas que você tenha; exemplo disso é a multiplicação de pequenos negócios com orientação vegetariana ou vegana na cidade: um nicho que as grandes empresas falham em atender com qualidade, e que as marcas locais conseguem suprir o interesse por diversos produtos – desde comida congelada, passando por cosméticos, roupas, chegando à super específica ceia de Natal vegana, por exemplo. E quando pensamos em moda, o consumo responsável é mais que urgente.
O cenário é tanto romântico quanto desafiador. Desmantelar o status quo, nesse caso, implica um amplo processo de conscientização à medida que novas marcas e produtos consigam um lugar ao sol em meio a enxurrada de informações na qual vivemos (ou tentamos). É compreender que optar por pagar um pouco mais caro na aquisição de um produto local, ou feito manualmente por artesãos de comunidades isoladas, ou que tragam em si algum valor de sustentabilidade, isso consiste em investimento. Isso consiste em militância ativa em prol da preservação de culturas que trabalham com métodos únicos de artesanato, que têm uma longa tradição de respeito à natureza e de resistência.
É nesse ‘nadar contra a concorrente’ que a Peregrina se norteia: garimpando preciosidades étnicas e artesanais pelo globo; fortalecendo a cultura e a identidade de comunidades e impulsionando pequenos negócios. E que tal apoiar iniciativas que facilitem o escoamento de produtos artesanais de povos indígenas, quilombolas e culturas tradicionais de todo o mundo, garantindo visibilidade a essas comunidades e um valor justo na cadeia de produção?
A Peregrina
Depois de 6 anos entre os altos e baixos (prometidos a todos e quaisquer empreendimentos), a Peregrina, que nasceu na Índia, hoje desbrava o cerrado brasileiro – mais precisamente os entornos de Alto Paraíso de Goiás, onde estreitou contato com culturas indígenas de diferentes etnias (como os Huni Kuins, os Fulni-ôs, Kariri-Xocós, entre outros) – e se prepara para mergulhar nos saberes tradicionais da maior comunidade quilombola do Brasil, os Kalungas. A Peregrina já apresentou coleções vindas de países como México, Camboja, Uganda, Tailândia, Peru e Colômbia, em um movimento de pagar pelo que julgava que seria a liberdade.
O chamado da marca, agora, é para aqueles cidadãos que se preocupam com a procedência daquilo que consomem, aqueles que tentam, sempre que possível, comprar de quem faz. Também para as artesãs e artesãos, de qualquer parte do mundo, que já entenderam que juntes somos muito mais fortes. A Peregrina lançou um financiamento coletivo para dar sequência ao trabalho que já vem desenvolvendo por meio de um marketplace que reunirá trabalhos autorais para os mais diversos gostos, de uma forma que os valores fiquem mais acessíveis ao público e mais justos para os produtores.
Nesse esquema, o marketplace reunirá roupas, acessórios, artigos de decoração, entre outros itens feitos por pequenas e pequenos artesãos e empreendedores de todo o planeta. A ideia é ser uma ponte entre quem compra e quem faz, prezando por uma remuneração justa e valorizando as histórias e saberes desses povos.
Se você é uma artesã ou um artesão e tem condição de se cadastrar no nosso marketplace pagando a anuidade, você também está possibilitando a entrada de artesã(o)s que não têm condições de pagar – ou seja, contribuindo para a visibilidade de outros pequenos produtores, para que possamos ir, cada vez mais, contra a massificação dos hábitos de consumo.
Fica o convite para acessar www.benfeitoria.com/peregrinaganhaomundo e checar tudo o que você pode ganhar em troca ao colaborar com essa ideia.
Motivos e Outros Meios para Somar
Além de contribuir com a perpetuação de uma gama de culturas tradicionais e com a sobrevivência de diversos núcleos de povos originários; de contribuir para a distribuição de renda entre a população em vez de concentrá-la na mão de grandes conglomerados; de proporcionar mais opções para você mesmo, que consome, e torná-las mais comuns e acessíveis para quem realmente conta as moedas no fim do mês. Se tudo isso não for suficiente, a gente ainda traz outros argumentos:
- O trabalho infantil e análogo ao escravo instituído por diversas multinacionais se alimenta do dinheiro que você investe em cada produto. Você pode pensar que “os meus dez reais não fazem a diferença”; mas ora, se não fazem diferença para eles, fazem a diferença para um pequeno produtor.
- Consumir responsavelmente também contribui para outras causas, como a antirracista, a LGBT+, a militância indígena, a causa dos agricultores sem terra e dos trabalhadores sem teto, entre tantas outras. Investir em marcas locais com frequência é proporcionar situação mais confortável para indivíduos de minorias – que não tiveram acesso à educação formal; que escolheram deixar seus empregos em grandes empresas devido a situações de preconceito e começar de novo; que buscam fortalecer suas formas de expressão únicas. Além disso, a descentralização da economia é uma ferramenta eficaz para diminuir o monopólio em todos os âmbitos – inclusive o alcance de marcas menores nos veículos de comunicação, altamente responsáveis pela consolidação de preconceitos e opressões.
E contribuir para que mais pessoas tenham vidas melhores não é nada difícil. Cada investimento consciente é um passo. Cada vez que você escolhe investir em uma marca local, em um artesão independente, em um profissional preto, indígena, LGBT+; cada vez que você escolhe dar uma chance para quem está começando, você contribui com uma sociedade menos desigual, com mais riqueza cultural e com mais diversidade. A sua mão – que digita, que clica em um botão de compartilhar, que digita um comentário positivo, que abre a carteira para pegar o dinheiro – é a mão que faz o futuro. Que tal permitir que seja a sua mão, humana e real, e não a mão invisível do mercado, a construir o amanhã?
Maruscka Grassano é formada em Comunicação, especialista em Marketing Digital e fundadora da Peregrina, marca de moda e decoração que busca contribuir para o fortalecimento de produtores independentes e de comunidades locais. Acompanhe seu trabalho no Instagram.
Carol Cadinelli é jornalista, apaixonada por palavras. Escreve, edita, revisa, traduz e, vez ou outra, fotografa. Atua como Social Media na Peregrina Digital, assistente de edição na Trama e escritora nas horas vagas.
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