Você é meu ninho, Não me impede de voar. Eu só conhecia gaiola, Grades a me aprisionar. Quem gostava do meu canto, Me feria e não deixava, Eu só cantava dor e pranto. Ao invés de voar, chorava. Asa quebrada, Voz calada, Presa eu acreditava No que ele falava: Eu era amada. Voar era desejo, Partir me amedrontava. Mas hoje eu vejo O tempo que perdi Enquanto não voava. Eu refiz meu ninho De galho em galho. Eu me dei carinho Felicidade amarela, Cor de canário. Daí um dia voando em bando Achei um pássaro sozinho Que já chegou cantando, Ofegante e suando, Mas com todo carinho. Nome passado, Eu já estava saindo. Tudo anotado, Fui embora sorrindo. Dali em diante A conversa fluía, Eu era feliz, Ali, eu sabia. Hoje voo com ele, Me sinto segura. Pele na pele E eu vou à loucura. Se me sinto mal, Seu ninho me cura. Hoje eu canto feliz, Mas também de saudade. Eu voo alto quando ele diz Que sou sua felicidade. No coração dele Me sinto em casa. Hoje canto pra ele, Mas não presa, Ele curou minha asa. Eu voo em paz E de asas bem dadas. Se lembrança ruim me traz, São águas passadas. Canto felicidade, No centro dessa cidade, Meu ninho, com todo carinho Me espera sem alarde. Me espera com a certeza, De que não volto muito tarde.
Geara Franco é jornalista, macramística e poetisa nas horas vagas.
Galeria: artistas pra seguir na quarentena
Apoie pautas identitárias. Em tempos de cólera, amar é um ato revolucionário.