Lá estava eu, novamente, entrando naquela casa completamente vazia.
Não era a primeira vez, mas eu sabia que seria a última. Ao andar por aquele corredor silencioso, as lembranças quase me derrubaram, tamanha a força com a qual chegaram. Precisei de um tempo para me recompor e continuar a andar, sem deixar que minha mãe percebesse as lágrimas caindo pelos meus olhos.
Aquele primeiro quarto estava repleto de lembranças, das mais alegres até as mais tristes. Ali, brinquei de boneca em cima de uma pilha de tijolos enquanto a casa estava sendo construída, mas também criei as últimas lembranças da minha bisavó e foi onde nos despedimos.
Na cozinha, tivemos nossos melhores encontros com amigos e familiares, e desfrutamos das melhores refeições e chás da tarde. Ali, aconteceram as conversas mais sérias e tomamos as maiores decisões da vida em família.
Naquele que foi o meu quarto, o qual por alguns anos dividi com minha irmã, cresci, e passei madrugadas acordadas conversando com amigas ou chorando. Ah! Chorei muito, em cada canto daquele quarto. Mas também dei muitas das minhas melhores e maiores gargalhadas. Ali, também, criei o hábito e aprendi a conversar com Deus.
Enquanto percorria a casa vazia, a mente não parava de girar. Sabia que o mesmo acontecia com a minha mãe e, por isso, preferimos cada uma fazer aquele percurso sozinha. Precisávamos nos despedir dali, cada uma a seu modo. Afinal, as lembranças não eram as mesmas; nem as alegrias ou as dores. Após alguns minutos de silêncio, saímos pela porta, a fechamos e fomos embora.
Com lágrimas nos olhos, decidimos não olhar para trás.
Karina Mendonça é jornalista e escreve desde os 17 anos, pois acredita que as palavras podem fazer coisas maravilhosas, desde mudar o mundo, até fazer alguém sorrir. Ou chorar.
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