O Hijab e a Descolonização do Olhar sobre a Mulher Muçulmana

Quando pensamos em Islam, logo pensamos nas mulheres muçulmanas, assunto central de qualquer debate e tratado de maneira categorizada vinculada a imagem bem comum chamada de burca, dominação masculina e opressão.

O que muita gente não sabe é que nem todo véu é burca; inclusive, a burca é uma indumentária somente de dois países e, hoje, o uso não é mais comum. O véu que chamamos de hijab é uma prescrição alcorânica tanto para homens quanto para mulheres, que diz: “cubram-se e sejam modestos”. Logo, o hijab nada tem a ver com aprisionamento da mulher. Além disso, a escolha do hijab precisa ser exclusivamente feminina, sem nenhuma compulsoriedade.

No Islam, não existe hierarquia entre homem e mulher; não há distinção de gênero, e, portanto, não existe nenhum processo de priorização de uma pessoa frente a outra. Quando estudamos o Alcorão, percebemos que ele é coerente e nos permite uma compreensão moral do mundo. Como defende Asma Lamrabet, “numa pesquisa alcorânica mais profunda, aprendemos a diferenciar o patriarcado na construção social/cultural e observamos que homens e mulheres estão pela justiça numa participação social e política”.

Há 14 séculos, o Islam foi revolucionário para sua época ao ver a espiritualidade da mulher em conformidade com a sociedade, e também garantir o seu direito à educação, ao divórcio, ao prazer sexual e à atribuição do poder na tomada de decisões. Dessa forma, a ideia de que o Islam oprime as muçulmanas é um contrassenso; na verdade, todas as mulheres são oprimidas, no mundo inteiro, pelo patriarcado.

A visão eurocêntrica invalida as diversas vivências das muçulmanas e impede a população majoritária de perceber os valores que elas carregam. Essa visão carrega a ideia colonialista do salvamento dessas mulheres; a verdade é que elas não precisam da redenção das mulheres ocidentais para estarem longe do machismo patriarcal – porque seguir o padrão feminino ocidental não garante a essas mulheres o livramento desse sistema que as oprime.

É preciso desvencilhar o julgamento das muçulmanas a partir da sua própria visão/ experiência e encarar as muçulmanas como as próprias protagonistas das suas histórias. É dessa forma que conseguimos entender o Islam e as muçulmanas, enxergar o diferente de forma livre, sem pegar a sua própria vivência e valores como referência do que é o ideal feminino.


Fabiola Oliveira é professora, mãe e ativista. Formada em Letras. Cria conteúdo para internet sobre maternidade e feminismo numa perspectiva islâmica.



Galeria: artistas pra seguir na quarentena

Apoie pautas identitárias. Em tempos de cólera, amar é um ato revolucionário.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *