Se você acessou qualquer rede social essa semana, já está sabendo da grande novidade do mundo dos famosos (que depois de uma semana, já não é novidade nem pra quem não tinha ideia de quem eram os envolvidos). A cantora Luísa Sonza e o cantor Vitão assumiram seu relacionamento romântico de forma pública, postaram um vídeo dançando juntos que viralizou sem motivo nenhum (como quase tudo o que viraliza na internet), e o público caiu matando.
Os comentários foram os mais diversos: desde críticas à aparência e ao jeito “quadradão” do rapaz, passando por piadinhas sobre o relacionamento dos dois, e chegando até a falas maldosas sobre uma possível traição da cantora ao seu ex-companheiro, Whindersson. Alguns desses comentários foram rebatidos com frases de apoio à cantora. E por que isso tudo? É só um namoro heterossexual entre duas pessoas públicas, ora. Corriqueiro.
O caso de Luísa e Vitão, enfim, é só mais um entre tantos milhares que acontecem todos os dias. Já vem de muito tempo essa cultura da fofoca, que coloca uma massa sem rosto como júri da felicidade e da tristeza do outro; e as redes sociais tornaram tudo isso muito mais fácil, ao dar espaço de autoridade a falantes sem identidade. Longe de mim desmerecer essas ferramentas que dilataram tanto a nossa liberdade de expressão individual e possibilitam que vozes caladas sistematicamente sejam ouvidas e amplificadas; mas cabe a crítica de que andamos, sempre, armadas da possibilidade de nos fazermos anônimas, para que nenhuma consequência de maldades que saem de nós nos atinja. Por que nos comprazemos tanto em atacar o outro?
Essa maldita tela para a qual olhamos o tempo todo transforma seres humanos que estão ao nosso lado em pixels, nos transforma em produtos, expostos para o entretenimento de olhos que não vemos; e viver o ‘Show de Truman’ é desgastante. A vida de ninguém deveria ser entretenimento pra outrem. Você pode pensar: “ah, mas gente famosa”; bem, por mais que algumas escolham transformar a si próprias em marcas, elas continuam sendo gente, que ama, sofre, erra e acerta. Pessoas que tomam decisões nas suas vidas em prol da própria felicidade e daqueles que são agraciados com o seu amor, e cujas vidas dizem respeito somente a elas – ainda que elas escolham vivê-la de forma pública, como é o caso de muitos artistas. E vale lembrar que ninguém precisa ser famosa pra virar alvo em rede social.
Luísa e Vitão são só as bolas da vez; vieram muitos alvos antes, e muitos outros ainda hão de vir. Na próxima semana, o relacionamento deles já não vai importar a ninguém, exceto por eles mesmos. E eu me pergunto por que raios alguém escolheria gastar o seu parco tempo em atacar alguém com quem nunca nem falou, e cuja vida pessoal não faz a menor diferença para si.
Carol Cadinelli é jornalista, apaixonada por palavras. Escreve, edita, revisa, traduz, atua e, vez ou outra, fotografa. Atualmente, é editora na Trama, Social Media na Peregrina Digital e escritora nas horas vagas.
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