Futuro (de)Mais

Um ano de pandemia. As coisas não estão se resolvendo, e podem demorar por mais um tempo.

O Brasil respirou ares trevosos e carregados de opressão nos últimos anos; mas parece que, em meio a todo o caos, ainda assim, reencontramos esperanças.

Ficamos frente a frente com nós mesmos; choramos e sofremos ao percebermos nossa humanidade em xeque em termos de fazer uma escolha entre a satisfação e o risco de sair e o isolamento e a “solidão” do toque.

Choramos com escândalos e preconceitos velados ganhando mais status e força como base institucional. A segregação e a agressividade alcançaram novos patamares, e de nós, o outro lado, o sentimento de ódio e a necessidade de combater cresceu…

Eu mesmo não me reconheço mais.

O fogo nos fascistas, racistas, LGBTfóbicos, ele tem me dominado como uma necessidade tão primordial quando a de me alimentar – e digo isso não pela luta por direitos iguais e pela justiça diante dos agressores e opressores (veja bem, eu disse justiça, e não o justiçamento), mas pela vontade de agredir, de castigar e de punir de verdade, com as minhas próprias mãos.

Essa é uma crise minha.

Eu me imaginei agredindo pessoas que já estiveram na minha casa; pedras arremessadas passaram a ser uma ideia justa em minha mente e coração.

Essa é só uma das crises pelas quais tenho passado – assim como qualquer um de nós que tenha tentado se manter são e acabou descobrindo que dentro de nós, parece existir um monstro, desesperado para sair em meio a tanta selvageria e caos por parte tanto do governo quanto por aqueles a quem considerávamos amigos.

O ano chega, voando, rápido; nem Bolt conseguiria ter uma vida tão rápida quanto este ano.

No início, parecia uma folga, um descanso forçado; mas nossos lares se tornaram prisões, sepulturas da humanidade, sepulturas de nós mesmos.

E o que resta?

O ano se renova. O mundo morre por mais um ano. Eu e você também morremos por mais um ano.

Aprendemos sobre novos limites dentro de nós mesmos – limites tão complexos quanto a última barreira no espaço sideral. Descobrimos nossa finitude e fragilidade, mas também a complexidade e o quão essencial são um beijo, um abraço, um cheiro no cangote, um toque de mão; em sua essência, bases de quem nós somos.

Precisamos encarar o vírus com a seriedade correta: entender que não é só o vírus, mas um mundo inteiro que pode nos consumir. Em mundo inteiro que seguirá firme e em constante evolução, enquanto nós ficaremos pelo caminho.

Precisamos encarar nossa saúde mental com a devida seriedade: entender que ser sozinho, estar sozinho, estar longe, é o que nos faz humanos. É nessa distância que identificamos sensações que nos levam a nos importar com o nosso próximo: carência, carinho, afeto, entrega, saudade, querência… Esperança!

O ano fecha com ares de esperança, de que o prelúdio de uma reviravolta no mundo está ganhando fermento, cheiro…

As eleições municipais no Brasil tem nos deixado sonhar com uma nova postura e uma força diante da adversidade, que pode gerar uma certa unidade, um pertencimento, um governo de todos nós, novamente!

Mesmo que o seu candidato ou a minha candidata percam hoje, e apesar do medo do amanhã, confesso: me sinto mais forte e com desejo de encarar o próximo ciclo com peito aberto, lágrimas de sangue e esperança nos olhos para construirmos o futuro.

O futuro, como já disse em outro texto, pode até parecer sombrio; mas hoje, mais do que ontem, precisamos olhar para esse ano e entender que nós podemos fazer mais, nós iremos fazer mais!

Tenha fé, tenha esperança, tenha amor pelo futuro. Não deixe de sonhar, nós ainda estamos no páreo – e, a cada dia, os ares de mudança se consolidam, como o mãe que insiste em tomar de volta a sua prole!

Vamos consumir o concreto da opressão e do ódio e criar recifes de vida e amor!

Um novo e maravilhoso ano se aproxima, cheio de gritos e atitudes desesperadas de um governo em ruína. Vamos amar e espalhar amor! (Se) Ame!


Kariston França é apaixonado por pizza, e nas horas vagas atua como entusiasta da teologia pública.



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