O movimento é o que faz a vida – e, especialmente em tempos como os que vivemos, se manter em movimento é essencial. Tudo se resume a encontrar o seu próprio ritmo, a sua própria toada, e colocá-la para o mundo – faça você o que fizer. Se manter em movimento é o segredo para não morrer; nem por dentro, nem por fora.
Ainda que com restrições e dificuldades, os artistas de Juiz de Fora permanecem se movendo, e impondo sua toada à vida; entre eles, Juliana Stanzani, que é cantora, compositora, produtora e tudo o mais e, em novembro, lançou o disco “Nossa Toada”, em parceria com o também músico e compositor Roger Resende.
Essa semana, a Trama conversou com a Juliana sobre o novo trabalho, parcerias e processos de composição. Rola pra baixo pra conferir a entrevista!
Trama: O “Nossa Toada” foi lançado agora na última semana de novembro, um projeto de parceria entre você e o Roger Resende, que vem sendo desenvolvido por mais de dez anos. Como nasceu essa ideia, essa fagulha, que resultou no álbum?
Juliana: Esse disco, ele começou a ser gestado mais ou menos em 2011, quando eu e o Roger a gente se conheceu e começou a compor juntos. A nossa primeira parceria foi justamente a “Nossa Toada”, que foi uma melodia que ele me mandou logo que a gente se conheceu, e um tempo depois, a gente começou a namorar, e a gente namorou durante um ano, em 2011. E aí, durante esse ano, essas músicas foram surgindo.
O Roger já tinha a carreira dele, com um show de samba, de autorais dele, e eu acompanhei muito a carreira dele, nessa época, e das pessoas que estavam na banda, também – uma delas, inclusive, é o Caetano Brasil, que é uma figura muito importante nesse disco, também, por ter feito parte desse momento todo; ele tocava com o Roger, e a gente sempre foi muito amigo, Caetano vivia junto com a gente, enfim, então ele acompanhou muito esse processo. Nessa época, inclusive, a gente fez um show – eu, Roger e Caetano – tocando essas canções também, entre algumas outras coisas. Então, a partir desse nosso contato, desse fomento que foi também o Caetano dentro desse projeto, de a gente ter feito esses shows, surgiu a ideia do disco. Daí, a gente entrou na Lei [Murilo Mendes] e passou, e em 2016, a gente gravou o disco. A partir desse momento, enfim, eu tive um problema de saúde, tiveram alguns outros impasses, o Roger precisava priorizar algumas coisas da carreira solo dele, e aí a gente acabou lançando só esse ano, que foi quando a gente conseguiu finalizar o trabalho do jeito que a gente queria – porque o disco foi feito com muito carinho, e a gente não queria, também, lançar de um outro jeito que não fosse o que foi, com muito cuidado em cada etapa, desde o disco em si, até a finalização, as fotos, o release, do jeito que a gente queria.
Enfim, o “Nossa Toada” é um disco de encontro, né? As melodias do Roger; as minhas letras; o nosso trabalho de arranjo, de nós três juntos, com o Caetano; e aí surgiu a Lei Murilo Mendes, a gente passou e veio o disco, a partir dessas canções que a gente trabalhou por bastante tempo e que ficaram, que a gente tem muito carinho por elas.
T: O projeto do disco foi aprovado pela Murilo Mendes em 2016, e o resultado final saiu agora. Esse tempo entre a aprovação e o lançamento gerou algum problema burocrático em relação ao trabalho? Qual foi o principal desafio do projeto do disco em relação à lei, se é que existiu algum?
J: Na verdade, não. Assim, existe um tempo que é determinado no edital que a gente fez, que costumava ser de um ano para a entrega do projeto – hoje já mudou, não sei mais como está. Esse período, muito poucos artistas de Juiz de Fora que foram contemplados pela lei conseguiram cumprir. Só que a Lei, se você dá um demonstrativo de que o projeto está encaminhado, eles não costumam entrar numa [de cobrar] não, e o que aconteceu foi isso. Quando deu mais ou menos dois anos do projeto, o pessoal [da FUNALFA] entrou em contato, e eu mandei pra eles as razões [do atraso], mandei para eles o que já tinha sido feito do disco, e foi isso. E a partir daí, quase todo ano, eu mandava alguma coisa pra eles, mostrando o andamento e pontuando justificativas.
Nesse ano, a gente lançou o disco, e está tudo certo. Quando passa muito tempo e eles veem que você não vai entregar o produto, aí você vai ter problema; tem gente que eles entram no jurídico com três, quatro anos – mas isso é gente que nunca prestou conta, nunca mostrou o que está sendo feito. E como eu fui, ano a ano, mostrando o que estava sendo feito e justificando os espaços de tempo, foi tudo muito tranquilo.
T: E como é a sensação de finalmente ter lançado o álbum, que vocês fizeram com tanto esmero? Como foi o feedback do público, nessas duas últimas semanas?
J: Ah, é uma sensação muito boa! Primeiro, uma sensação de dever cumprido, e segundo, muita felicidade mesmo, por ver um disco que a gente teve tantos cuidados, desde a concepção das canções até o fim das contas, do qual participou tanta gente massa, e que trouxe tanta gente boa pra vida mesmo – o Dré Rosário, que eu já conhecia e o Roger também, se aproximou mais a partir da gravação do disco, ele gravou as percussões; o próprio Ricardo Itaborahy, que é primo do Roger e um grande músico, que fez a produção junto com a gente, e esteve perto o tempo inteiro; enfim, todo mundo, mesmo… foi um disco com muita carga afetiva. Todo mundo que participou é gente próxima, querida, que a gente curte.
E profissionalmente, pra mim, lançar um disco – eu que sou uma cantora de uma geração um pouco mais nova -, ter canções com o Roger, e ter esse repertório com ele, isso é no mínimo envaidecedor. Ele é uma pessoa que eu admiro muito, um profissional que eu admiro muito, e eu fico muito feliz e muito orgulhosa de ter feito o disco, de ter conseguido o resultado que a gente conseguiu mesmo com todos os impasses.
Para além disso, o feedback está sendo ótimo. É aquela coisa, né, o artista independente, as nossas expectativas quando a gente lança um produto como esse são mais a longo prazo; mas a gente tá tendo uma resposta muito boa, das pessoas que já acompanham a gente, de algumas pessoas que vêm chegando, que têm conhecido o disco… A gente teve uma coisa muito legal que foi a participação do Emmerson [Nogueira], então a gente lançou um single antes com a “Canção da Despedida” e, também por conta da projeção do Emmerson, a gente teve um retorno muito bom nas plataformas digitais – com uma semana de lançamento, a gente já tinha quase dez mil views só no Spotify. E é uma resposta boa. O disco também está sendo bem acessado, e eu estou muito feliz.
T: A minha próxima pergunta era justamente sobre a parceria com o Emmerson Nogueira, que é um dos grandes nomes que saiu de Juiz de Fora e conquistou o país inteiro. O disco foi gravado no estúdio dele, e ele fez o single com vocês… É uma experiência muito diferente, esse contato e parceria com um artista de maior alcance? Ou a diferença fica mais mesmo na questão da potencialização do alcance do trabalho de vocês?
J: A proximidade com o Emmerson já vem de um tempo; o Roger conhece ele desde que eles eram muito novos. O Emmerson, na verdade é de São João Nepomuceno – muita gente pensa que ele é daqui, enfim, o pólo cultural, mas na verdade a família dele é radicada em São João, que é onde fica o studio onde a gente gravou, que é um dos melhores studios da região em relação a equipamento e tudo o mais.
Retomando o lance da proximidade, veio muito disso, da amizade que o Roger e o Emmerson já tinham, e também um elo muito importante entre nós três, que é o Paulinho Cri Cri, que é um compositor de São João, uns dez, quinze anos mais velho que o Roger, e que morreu; [ele] era muito amigo do Roger, meu e do Emmerson, e era meio que um mestre de todos nós, enfim. Ele morreu, e depois de um tempo, a gente fez a ‘Canção da Despedida’ pra ele, eu e o Roger, e, no processo de gravação lá no studio, veio tudo muito naturalmente; porque a gente estava alugando o studio, mas o Emmerson acabava ficando sempre ali por perto – até porque, ele mora no studio, a casa dele é do lado do chalé onde tem o studio, no meio das montanhas, afastado de tudo, com uma vista maravilhosa. Então, ele estava ali toda hora, e surgiu no papo o convite; a gente falou que a tinha feito a música pro Cri, e foi muito natural – ele foi lá, cantou com a gente na semana seguinte, e deu super certo, muito nessa homenagem ao Cri, também. E foi isso, a participação dele se deu dessa forma.
E sobre as implicações, é muito bom, assim. Você perguntou sobre as diferenças de gravar com um artista que transita no mainstream e, no trato, não tem não. É a mesma coisa. O Emmerson é um grande músico, como outros também que estavam ali. Mas, realmente, os resultados de uma música que a gente lança com um artista como ele e que sai nas plataformas como sendo um lançamento também do Emmerson tem uma projeção que é, no mínimo, três ou quatro vezes maior do que a gente aqui; porque, afinal de contas, o Emmerson tem, sei lá, um milhão de seguidores, e eu tenho três mil. Então, é bem diferente a expectativa para um lançamento que tem um nome como o do Emmerson para um que não tem.
T: Você comentou sobre a Canção da Despedida, e é bem perceptível que as outras canções do disco também vêm de um lugar muito pessoal da sua vivência. Como funciona, pra você, essa metamorfose de experiência em poesia, em letra?
J: Eu acho que, na minha história de composição, esse é um lugar bem comum das coisas que eu faço – de serem coisas que transitam em imagens, as quais compõem uma atmosfera que conta uma história, ou que dá uma certa sensação, ou fala sobre algum estado de espírito, ou um lugar, enfim. Então eu tento construir essas imagens de acordo com o que a melodia me traz.
Eu, na verdade, tendo a trabalhar com a ideia, na minha cabeça, de que não existe essa distinção entre poesia e música; até porque, uma coisa é a outra e a outra é a uma. Poesia é música, pode ser música, e canção tem a sua poesia. Então, existe, para mim, a diferença mais no sentido do diálogo – porque quando eu sento pra fazer uma música sozinha, eu penso na melodia e vou encaixando, ali, as imagens que vão compor a história que eu quero construir; agora, quando vem de outra pessoa – como no caso da maioria das músicas do disco -, você já tem ali uma formatação. Por exemplo, quando o Roger me mandou a “Nossa Toada”, você já tem ali a melodia; e aí o que você coloca, ali? Já está meio formatado o que cabe. E aí pensar o que cabe dentro é o trabalho.
Cada compositor tem a sua forma diferente de dividir a melodia, pra você pensar a letra, e o processo inverso também é muito constante, de você ter a letra e pensar a melodia – e aí você já tenta fazer uma métrica que seja constante, que tem uma ideia rítmica nas palavras. E isso tudo pra dizer que, na verdade, existe sim um diálogo muito grande entre o que eu escrevo de literatura, fora as músicas, e as músicas, mas que a música em si ocupa um lugar muito do diálogo. Eu raramente escrevo com alguém, e acho que poucas pessoas escrevem com outras pessoas – tirando projetos específicos; e a música acaba sendo isso, um diálogo entre o texto melódico e o texto verbal. Esse, pra mim, é o cerne da diferença, e é o gostoso de fazer música – porque você fica ali naquele jogo, tentando entender a intenção da melodia, as imagens que a melodia passa (e dificilmente os amigos mandam uma noção do que inspirou, pra ajudar a gente, né? [risos]), desvendando as ideias a partir do que você conhece da pessoa, enfim. E tem a diferença também que, pra mim, que escrevo em verso livre, é um outro tipo de jogo, né; talvez para quem escreve em formas mais fechadinhas, seja um processo bem mais parecido.
T: Ju, e você já tem muitos anos de carreira – só com a Matilda, já são 11 anos; e o “Nossa Toada” é o primeiro álbum que você assina com o seu nome, e não como parte de um grupo. A partir disso, você tem ideias futuras para projetos solos, paralelos à Matilda? Ou você diria que o seu estilo é mais fazer música em colaboração?
J: Bem, eu estou tentando que não seja o meu estilo [risos], só fazer música em colaboração. Enfim, brincadeiras à parte, eu tenho um pouco esse perfil, mesmo; já trabalhei muito tempo com produção de outros artistas – já fui produtora do Caetano, da Laura [Januzzi], do próprio Roger, do Encontro de Compositores, ainda produzo o Encontro Nacional de Mulheres na Roda de Samba, entre outros eventos por aí. Então rola, isso; é uma coisa bem minha, mesmo.
A Matilda, pra mim, foi a maior escola – antes dela, eu já tinha tido banda, banda de rock, desde a adolescência até o início da vida adulta, e aí eu vim pra Juiz de Fora e fui mais para a MPB. E aí, começaram os contatos, pessoas que eu conheci aqui e que vez ou outra eu participo dos trabalhos. Então, isso é uma coisa legal que eu tenho nesses quatorze anos de carreira ativa – quase metade da minha vida -, que eu tenho muito orgulho, também; das muitas participações que eu fiz em discos cantando com amigos, ou parceiros que gravaram músicas minhas e nossas, e projetos que eu pude participar com artistas como Luizinho Lopes, a própria Laura, Cacaudio, Carol Serdeira (que sempre grava alguma coisa minha), enfim, entre outros. Parceiras por todo lado.
Então tem esse lado, de que eu gosto muito de contato, e de compor junto; e o outro é o lado pessoal, de plano de carreira, que é individual.
T: Já até imaginei você candanto uns rocks bolados (risos)
J: Você sabe que é uma das minhas frustrações, né?, ter nascido com essa vozinha… porque a minha vontade mesmo era ser uma roqueira muito doida, e cantar uns heavy metal pesados (risos). Eu gosto muito de rock mesmo, e o povo nem imagina, até leva susto às vezes, mó engraçado. Eu chego nuns rolês de rock ‘n’ roll, e as pessoas ficam “gente, o que que você tá fazendo aqui?”, que muita gente me conhece de outros rolês.
Ano passado mesmo, que foi um ano em que eu saí mais, e aí eu chegava, às vezes, nos festivais, assim, e os meninos que me conhecem do rock já vinham de ‘oi, Ju!’; tanto que, ano passado, tem uma foto ótima minha participando de um show no Bar da Fábrica (risos), eu fui pra assistir, os meninos me cataram lá… E é isso, música, adoro música, e rock ‘n’ roll é bom demais, sô.
T: Você comentou sobre querer fazer os shows e os eventos ano que vem, e a pergunta é batida mas precisa ser feita: como tem sido esse cenário de isolamento, sem show nem nada? E como tem sido as expectativas de produção mesmo em relação à vacina, que ainda não tem data, e à Lei Aldir Blanc?
J: Pois é. Eu tenho visto que tá todo mundo muito esperançoso, com essa vacina pra ano que vem, mas é tudo um desafio, mesmo, trabalhar a ansiedade e ter em mente que não são seis meses, um ano e meio, que vai minar o que a gente construiu até aqui; tem que aguentar firme. É o papo batido, mas é a verdade, tem que segurar a onda. Enfim, e a gente trabalha com aglomeração, não dá pra fazer música sem aglomeração pelo resto da vida. Bem, talvez até dê, não sei se as coisas vão se transfigurar a esse ponto, mas eu acho que tentar fazer o que dá nesse momento – eu, por exemplo, vou começar a gravação do meu disco no início do ano, e esperar que eu consiga lançar ele no segundo semestre, mas é uma coisa que tem que ir pesando mês a mês.
É um pouco isso, mesmo, a gente vai fazendo os planos e vai medindo, vendo o que vai acontecer logo em seguida – acho que pra nossa profissão e pras profissões de modo geral que dependem de aglomeração, né, como o comércio, entretenimento como um todo, setor de eventos… Então, a gente vai fazer o ritual enquanto dá: live, só a gravação, encontrando com poucas pessoas, mas tentando produzir; e são essas as expectativas, de ir produzindo e, no momento adequado, conseguir escoar essa produção também ao vivo.
Sobre a Aldir Blanc, eu acho muito importante, acho que foi uma iniciativa vinda muito de pressão e de demandas da próprias classe, e que viabiliza que a gente possa tentar produzir algo em meio a esse cenário horrível atual. Apesar disso, e de a Lei ser necessária, acho que falta política pública. É muito fácil você pegar o dinheiro, só, e dar. O difícil mesmo, e que ninguém faz, e que a gente viu um esqueleto do que precisava ser feito durante o governo Lula, na gestão do Gil, daquele fomento cultural aos projetos de lei, todos os pontos de cultura, e aquele movimento todo, a gente teve ali um início de uma ação, que logo depois começou a ser minada, desaparelhada, e vem sendo mais a cada ano até a gente chegar agora na total desestruturação do MinC e de tudo mais; a minha visão de necessidade é de uma política pública mesmo, na qual você tenha planos de ação consistentes, especialmente para uma época de pandemia. Então acho bom o dinheiro ter saído, mas não acho que seja a solução; acho que o dinheiro é um tapa buraco, um jeito de dizer “não quero ter trabalho com cultura, então toma aqui um dinheiro”. Até porque, acabou o dinheiro, acabou tudo. A gente precisa de estrutura, e isso a gente não tem, e não tem nenhum tipo de panorama, de expectativa de ter tão cedo, infelizmente – pelo menos, não pelos próximos dois anos, com esse governo que tá aí.
T: Enquanto tapa buraco, você diz que a Aldir Blanc é funcional; e a gente não pode deixar de lembrar que ela é uma lei instituída pelo Estado de Minas. Porém, Juiz de Fora é uma cidade com uma cena cultural muito diversa, e que necessita dessas soluções a nível municipal. Enquanto artista amplamente atuante na cidade, como você pensa que os órgãos municipais poderiam contribuir com o fortalecimento da classe artística daqui?
J: Eu acho que é funcional e necessária, inclusive, nesse momento; mas acho que ela não exclui nem substitui políticas públicas. Não que seja esse o objetivo dela, a gente sabe que é uma lei emergencial; mas fica essa impressão de que as coisas estão resolvidas, quando, na verdade, elas estão da mesma forma que sempre foram, e o que faz falta realmente é política continuada, política consistente, um projeto de cultura.
A gente tem um plano municipal aqui em Juiz de Fora, de cultura, que está pronto há quase dez anos, e nunca foi cumprido. Pra você ver, eu conheço pessoas que fizeram esse plano municipal de cultura, trabalharam, pesquisaram muito, e simplesmente, ele [o plano] é ignorado. Então, eu acho que é esse tipo de coisa que a gente tem que, a partir de 2021, também cobrar, além das políticas emergenciais. E eu acho que o município pode ajudar gerindo bem o dinheiro que chega para a cultura; buscando apoios, em parceria com o privado, como aconteceu na Murilo Mendes ano passado – acho que o teto dos recursos nunca foi tão alto -, mas sem ser pautado pelo privado, e coisas nessa linha. Eu gosto de política, de ouvir e entender pelo menos superficialmente, e penso que uma boa gestão, com boa intenção e um pensamento bem estruturado em torno de um projeto legal em torno da cultura nacional, para fomento do que já existe e que precisa ser amparado – não estou nem falando de como o governo Bolsonaro tentou, há pouco tempo, desmontar o que já existe completamente e tentar reconstruir sob uma estética nazista. Enfim, acho que o Brasil é um país muito rico; e é amparar o que existe, dar estrutura para que as pessoas vivam bem, e possam viver do trabalho delas, entender a cultura como esse lugar de trabalho, de produção, de mão de obra – isso, a nível nacional e municipal, também. Eu sou crítica da última gestão, mas não sou crítica ferrenha; acho que os meninos fizeram um bom trabalho em vários campos, gosto da pegada que eles tiveram desde o começo de atualização da estrutura de acesso – por exemplo, a Lei Murilo Mendes poder ser inscrita virtualmente, que é uma coisa que nunca tinha acontecido… Então, assim, são alguns pontos interessantes que eles trouxeram e que o município pode continuar. E, agora, com a gestão da Margarida, a minha esperança está bem alta.
T: Em relação a outros projetos, para além do seu disco solo no ano que vem, você tem algum plano? Vem mais Matilda por aí, ou algum outro projeto?
J: Existe, sim, uma vontade da Matilda de fazer projetos pontuais. A gente é uma banda que “acabou”, mas não acabou, que a gente fica nessa lenga lenga, enfim; porque a banda acabou mesmo por questões de vida, sem grandes atritos, então a gente sempre quer voltar. Então a gente tem sim, e talvez ano que vem isso role, vontade de fazer um show novo, com músicas novas – e não sei bem como seria isso, sobre a continuidade da banda, mas ficou acordado que sim, a gente faria um projeto qualquer hora dessas, existe essa vontade.
Fora isso, tem ainda o “Nossa Toada”, que, como eu comentei, é um projeto que eu acho que tem muito a dar ainda, e eu pretendo continuar trabalhando com o material do disco pelo menos ano que vem e no próximo, tentar circular com o projeto, lei de fomento, contatos, e assim vai. Primeiro, na verdade, fazer o show, porque, enfim, a gente não conseguiu ter essa parte boa do serviço, que é juntar a galera, ensaiar e tocar.
Tem o ‘Maldita’ também, que é algo que eu pretendo empreender o mais breve possível – não sei se no ano que vem, ou se no outro, mas eventualmente vai sair; e continuar contribuindo com os projetos que eu contribuo. Eu estou no Encontro Nacional de Mulheres na Roda de Samba, e vou continuar fazendo as minhas participações, que sempre rolam – nesse mês, inclusive, eu vou gravar uma faixa no disco do Raí Freitas, que é um cara da minha geração também que eu sou muito fã. E eu tenho também projetos pensados com o Dudu Costa, que a gente quase gravou um EP esse ano e deve rolar, mais pra frente, e é mais ou menos por aí: continuar acessando meus parceiros e parceiras, fazer música nova – inclusive, acabei de fazer uma música nova com a Nara Pinheiro, flautista, que me mandou uma melodia linda -, e é isso. Continuar. Movimento.
T: Qual pergunta você gostaria que eu tivesse feito e não fiz? E qual a resposta para ela?
J: (risos) Amei essa última pergunta. E acho, na moral, que não faltou nada não; deu pra falar um pouco de tudo: processo criativo, a história do disco, como ele foi idealizado… Faltou falar, talvez, da Sensorial, que é o selo que está distribuindo o disco, que é um selo novo na cidade, e que também vai ser um espaço cultural – eles construíram uma casa mesmo, fodona, em frente ao Estádio Municipal -, e a gente está com eles, tem uma assessoria de marketing, um trabalho bem legal, de inclusão das músicas em várias playlists grandes aí em várias plataformas, e de espalhar o som, mesmo.
No mais, eu acho que falei de tudo. Enfim, a minha carreira, como a de todo mundo, de estar nesse momento de pausa, mas que tudo permanece rolando, e aí de trabalhar a ansiedade, e esse medo constante… E é tentar lidar com tudo isso e tentar se manter em movimento.
E é isso. Obrigada mesmo pelo espaço, isso é importante pra caramba pra gente, e seguimos aí!
Óuça o álbum ‘Nossa Toada’, de Juliana Stanzani e Roger Resende.
Sobre a Entrevistadora:
Carol Cadinelli é jornalista, apaixonada por palavras. Escreve, edita, revisa, traduz e, vez ou outra, fotografa. Atualmente, é editora na Trama, Social Media na Peregrina Digital e escritora nas horas vagas.
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