Deitou ao meu lado e disse que era Muié e antes disso Menina E antes de ser menina já sabia portar-se como uma muié Nos cruzados de pernas sai aprovações e sentando-se torto o mundo rebela-se. Sabe ser muié, mas não ainda não jamais não mais menina Quem gritou NÃO?! Quem soltou em nossa mão as expectativas do mundo? Quem debruçou em nossos pés a balança e o PESO de sermos m i l i m e t r i c a m e n t e calculadas? Quem deitou na nossa cama negações aos sonhos que tivemos? Quem calou a nossa boca e baixou a nossa voz? Uma muié é uma muié e ponto. Três pontos. Cinco pontos se for muito grave. Não cabe reticências. DEVOLVA! Tira as mãos da minha boca AGORA! Sim, eu sei falar. Não há licença Com jogo e tons e vozes muitasmuitasmuitas. Pode ser menina, minha criança, não há problema O nosso mundo tem espaço para a sua idade E sua idade cabe aqui Em você e na sua roupa Qual roupa? A que quiser no azul mais profundo com marcas de menino Sua idade cabe aqui Será muié e um dia entenderá o que bem quiser entender Sua idade cabe aqui E sem ameaças Em cem ameaças.
Maricilde Pinto é uma poetisa maranhense, contista e redatora. Estudante de Psicologia pela Universidade Federal do Maranhão, é autora do livro “Retalhos do que é ser humano” e o livreto “O amor há de sobreviver”, ambos publicados em e-book pela Amazon. A escritora tem amor à arte e deseja levar ao mundo o que há de mais urgente na palavra.