Uma Folha, um limbo

Ela desce cuidadosamente pelo céu,
Revira-se nas cócegas do vento
Cortando ao meio cada pano fino e azul estendido lá em cima
Com manchas brancas de algodão.

De onde viria?
Saberia a natureza do seu destino?
Digo que a árvore que a pariu voltou ao chão
E do chão emergirá como outra,
Parente em espécie.

Lembro de casa, da rua, do cheiro de chá
Antes, a rancava dos mais finos galhos para servir a chaleira
Hoje, inveja.
Ela não procura a razão de ter subido ao mundo.
Eu, rente ao chão, a descubro na minha miséria e no cabresto do chinelo arrebentado.

Meus pés sentem raízes nas pontas dos dedos
No meu juízo: a gambiarra não mais o sustenta.
Quem sabe descalço permaneço no sempre e ganhe essa leveza
Em voo e delicadeza
Como um homem carregado pelo tempo.
 
E quando a natureza cansar da brincadeira céu adentro,
Me faça gente e devolva a memória.
Ao tocar o chão novamente,
Alimentarei o mundo com o meu fraco e esperançoso desejo
De agora ser o fruto tirado dos galhos
Ainda verde,
Ainda vivo,
Ainda alimento a que veio.

Maricilde Pinto é uma poetisa maranhense, contista e redatora. Estudante de Psicologia pela Universidade Federal do Maranhão, é autora do livro “Retalhos do que é ser humano” e o livreto “O amor há de sobreviver”, ambos publicados em e-book pela Amazon. A escritora tem amor à arte e deseja levar ao mundo o que há de mais urgente na palavra.


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