Grande Sertão: Veredas é uma das mais famosas e importantes obras de nossa literatura nacional. Desde sua publicação, o livro teve inúmeras interpretações – tanto por ser narrado em estrutura linguística muito peculiar, quanto por abordar as mais diversas questões da existência humana.
Um dos aspectos que mais se destaca é a relação do personagem principal, o gigante Riobaldo Tatarana (o Urutu Branco), com Deus e com o Diabo. Ao narrar sua história no Sertão, por diversas vezes, a existência do Diabo é questionada; porém, ao mesmo tempo, ele é caracterizado, sendo, portanto, vazio de existência, mas existente em certa medida.
Fato é que Guimarães Rosa evidencia como os habitantes do sertão nordestino viviam intensamente esse maniqueísmo de “Bem versus Mal”. Especificamente no caso do Mal, a mitologia regional era traçada por um forte temor ao Diabo, acreditando-se, inclusive, que, se o citassem, ele apareceria e passaria a infernizar a vida de quem o chamasse. Assim, o melhor artifício era dar à figura do Mal uma imensa variedade de denominações, pois essa seria a forma mais fácil de ludibriá-lo.
Coincidentemente ou não, nos tempos sombrios que estamos vivendo desde a expansão geográfica da pandemia do Coronavírus, diversas pessoas – dos mais distintos cargos, escalões, classes e afins – estão se mostrando essencialmente ruins. No sentido mais puro, esses indivíduos malvados, abomináveis, detestáveis, impiedosos, sanguinários, facínoras e cruéis, poderiam ser considerados a materialização daquilo que, para a literatura Roseana, seria o Mal.
Maior coincidência é que nos vemos igualmente receosos – e até mesmo cerceados – de denunciar e denominar essas pessoas. Mas, ainda assim, nos é necessário falar, gritar, insultar e reclamar desses indivíduos e de suas atitudes, até porque esse movimento catártico de raiva e dor é uma das únicas formas de expressão que nos resta dentro desse isolamento tão penoso.
Portanto, o objetivo desse texto é justamente compilar alguns dos nomes dados ao Mal em Grande Sertão: Veredas para que tenhamos opções suficientes para alcunhar nossos demônios. Aqui estão eles:
Anhangão; Anjo- Caído; Apôrro; Aquele; O Arrenegado; O Austero; O Azarape; O Azinhavre; Barzabu; O Bode-Preto; O Cafofo; O Canho; Canhoto; Cão; O Cão-Extremo; O Cão-Miúdo; Capeta; Capiroto; Caracães; Careca; O Carocho; O Coisa-Má; O Coisa-Ruim; O Coxo; O Cramulhão; O Crespo; O Cujo; O Dado; O Danado; O Danador; Das Trevas; O Dê; Deamar; Deamo; O Debo; O Demo; O Demônio-rabudo; O Demonião; O Diá; Diabo; Dianho; Dião; Diogo; Dioguim; O Dos-Fins; O Drão; O Duba-Dubá; O Ele; O Faca-Fria; O Facho-Bode; O Ferrabrás; O Figura; O Galhardo; O Grão-Tinhoso; O Hermógenes; O Homem; O Indivíduo; Lúcifer; O Mal-Encarado; Maligno; Malino; O Manfarri; O Manfarro; Mafarro; O Miúdo Satanazim; O Morcegão; O Muito Sério; Muitos Beiços; O Não-Sei-Que-Diga; O Ocultador; O Oculto; O Outro; O Pai Da Mentira; O Pai Do Mal; O Para Sempre; O Pé-De-Pato; O Pé-Preto; O Que Azeda; O Que-Diga; O Que-Não-Existe; O Que-Não-Fala; O Que-Não-Ri; O Que-Nunca-Se-Ri; O Que Rança; O Rapaz; O Rasga Embaixo; O Rei Diabo; Rincha Mãe; Sangue-D’Outro; Satanás; Santanazim; O Sem-Gracejo; O Sem-Olho; O Sempre Sério; Senhor -Das – Trevas; O Severo Mor; Solto-Eu; O Solto-Fu; O Sujo; O Tal; O Temba; O Tendeiro; O Tentador; Tibes; O Tinhoso; O Tisnado; O Torto; Tranjão; O Tristonho; O Tunes; e O Xu.
“O que não é Deus, é estado do demônio.
Deus existe mesmo quando não há.
Mas o demônio não precisa de existir para haver –
a gente sabendo que ele não existe,
aí é que ele toma conta de tudo.”
Déborah Silva é advogada, especialista em Direito Constitucional e pós graduanda em Direitos Humanos, Responsabilidade Social e Cidadania Global.
Kkkkk. Já sei como denominar algumas pessoas da política brasileira.