NO VALE DO LUTO

Estamos vivendo tempos de luto. Com a pandemia, seguimos sendo forçados a aprender (a duras penas) a viver o luto sem tempo de nos recuperar. E, para piorar, não podemos enterrar nossos mortos, o que torna o processo do luto ainda mais difícil de lidar e superar. Assim, estamos vivendo em luto enquanto precisamos nos fingir de fortes.

Estamos tentando seguir a vida em nossas casas, home offices e ead‘s, tentando fingir normalidade enquanto perdemos, a cada instante, pessoas queridas. Mas, se olharmos para o lado, veremos que, a maioria de nós está de luto: por um familiar, um conhecido, um amigo…

Em seu livro “Anatomia de uma dor: O luto em observação”, C.S. Lewis, fala que:

O que é o luto, se comparado à dor física? Independente do que os tolos digam, o corpo é capaz de padecer vinte vezes mais do que a mente. Esta possui sempre algum poder de evasão. No pior dos casos, só o que o pensamento insuportável faz é ficar voltando, mas a dor física pode ser absolutamente contínua. O luto é como um bombardeio dando voltas e lançando suas bombas para atingir um raio de ação; o sofrimento físico é como a barragem fixa numa trincheira na Primeira Guerra Mundial, horas nela, sem uma pausa em momento algum. O pensamento nunca é estático; a dor muitas vezes é.”

Sim! O luto dói! E não estamos acostumados a conversar sobre isso. Porque nunca estamos preparados para a perda de ninguém, mesmo que faça parte do ciclo da vida, a dor da perda é naturalmente sentida, porque o vazio fica e é impossível não senti-lo. Quando perdemos alguém, ficamos com uma mensagem não respondida. Uma cama vazia. Uma data no calendário que não mais iremos comemorar, enquanto outra passará a nos entristecer todos os anos a partir dali. Ficamos com uma ligação que nunca mais irá completar e uma voz que não mais escutaremos. Um abraço que não voltaremos a receber.

Ainda em “Anatomia de uma dor: O luto em observação”, C. S. Lewis diz que “a dor da perda é como um grande vale, um vale sinuoso que a cada curva pode revelar uma paisagem totalmente nova.” É por isso que, neste momento em que tantos de nós estamos enlutados é que mais precisamos da tão conhecida empatia. Cada um de nós está dolorido, passando por um vale. Cada qual em sua curva, sem sabermos o que nos espera na curva seguinte.

Neste vale, como cita C. S. Lewis, passamos pelos cinco estágios do luto: a negação (e o isolamento), a raiva, a barganha, a depressão e a aceitação. Mas cada etapa leva tempo. E cada pessoa tem um tempo diferente. Em dias nos quais perdemos alguém a cada instante, alguns de nós nem sabem mais em que etapa do luto estamos; por isso, precisamos de ajuda. De empatia. De paciência. De amor. De oração. Precisamos, mais do nunca, estar juntos pelo outro (mesmo que distantes).


Karina Mendonça é jornalista e escreve desde os 17 anos, pois acredita que as palavras podem fazer coisas maravilhosas, desde mudar o mundo, até fazer alguém sorrir. Ou chorar.


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