Os ladrilhos hidráulicos são um tipo de revestimento de piso que era anteriormente usado em paredes, e que foi importado de Portugal, Bélgica e França para o Brasil até fim do século XIX, quando surgiram as primeiras fábricas de imigrantes italianos no país.
Desde a invenção da técnica do ladrilho hidráulico, sua utilização foi ampla e bem difundida nos anos de 1900. Segundo Marcos Olender (2011), esse revestimento surgiu depois do aparecimento de novos métodos construtivos, como o cimento Portland. Produzido inicialmente de forma artesanal, o revestimento foi introduzido naturalmente nas casas e nas predileções estéticas que estavam se consolidando em meados de 1800. Ainda segundo o autor, os primeiros registros encontrados da utilização do ladrilho datam de 1850, na região do Vale do Reno na França. Em seguida, sua rápida difusão foi bem sucedida por toda a região da Provença, ainda na França, seguindo rumo ao norte da África e para o resto do mundo.
Segundo Nestor Goulart Reis Filho (1970), no decorrer da trajetória de mudanças socioeconômicas e tecnológicas ocorridas durante a segunda metade do século XIX no Brasil, profundas transformações foram desencadeadas nos modos de se habitar e construir no país. Nesse contexto de desenvolvimento tecnológico, a produção e uso do ladrilho hidráulico aumenta, se tornando um revestimento que alcançou grande popularidade. Nesse sentido, é possível identificar tal produto na maioria das edificações mais expressivas desse período.
Uma das empresas responsáveis pela produção desse revestimento, foi fundada na cidade de Juiz de Fora, com o nome Pantaleone Arcuri & Timponi, em 1895, que depois mudou para Pantaleone Arcuri & Spinelli até adotar em definitivo o nome Companhia Industrial e Construtora Pantaleone Arcuri, que se manteve em atividade até 1944. De projetos arquitetônicos à fornecimento de material para a construção, como telhas de cimeanto (antecessor do amianto), portas, janelas, louça, porcelana, encanamentos, ladrilho hidráulico, dentre outros, a fábrica cresceu muito e expandiu sua produção, chegando a fabricar carroças e posteriormente ter uma representação de automóveis da FIAT, importados da Itália.
Mesmo após cerca de um século, andando por Juiz de Fora, é possível perceber a riqueza arquitetônica eclética que se faz presente nas fachadas do centro. Muitas edificações estão tombadas, algumas em processo de tombamento e outras, ainda, sem esse reconhecimento. Dentre essas construções, existem casas particulares, estabelecimentos comercias e edifícios públicos. É difícil afirmar se a maioria desses lugares ainda possui o interior original, uma vez que muitas dessas construções são de uso particular, mas a beleza da preservação histórica visível nas fachadas é algo encantador na cidade.
Poliana Vieira Côrtes Lopes é formada em artes pela UFJF, é professora, especializada em restauração e mestranda no PPG de Patrimônio da Fiocruz do Rio de Janeiro e sócia da Instituição Cultural Bodoque Artes e Ofícios.