Todos nós nascemos com alguma paixão, algum talento.
Mas somos forçados a guardar numa caixa e viver vidas que foram escritas por outras pessoas, pela sociedade antiga e quadrada. Ou, raramente, somos incentivados pelos nossos familiares, amigos e professores mas falta confiança, iniciativa, oportunidade.
Mas mesmo o que nos é negado, se é pra ser nosso, volta. Sempre volta.
Com nosso artista homenageado de hoje foi assim. Felipe tem arte na musculatura das mãos que permite que ele desenhe nos papéis e… nas peles das pessoas.
Felipe Lemos vem de uma família batalhadora do Rio Grande do Sul, que sempre o enxergou com amor e orgulho; porém, nem sempre a gente consegue fazer dinheiro, pagar contas e sustentar a vida com nosso talento. É preciso se dedicar, estudar e o mais importante: não desistir. E, ao mesmo tempo, trilhar uma estrada paralela com trabalhos estáveis que nos dêem a segurança que nosso sonho ainda não consegue.
O Felipe fez exatamente isso, por bons anos, até que decidiu arriscar e começar a treinar para ser tatuador. A técnica dos equipamentos, porque a fluidez para transformar pensamentos, sentimentos e ideologias em desenhos já são parte dele desde que se entende por gente.
Ter um talento é bonito, é especial e genuíno. Mas também é difícil, doído, fácil de perder as esperanças de viver dele porque há olhos no mundo que não querem ver a arte, a expressão livre, a perspectiva do outro diante da vida. Mas quando a pessoa persiste, a escalada vai ficando menos íngreme e mais fluida, cheia de paisagens preciosas e a certeza no coração se torna cada vez mais límpida, nítida, certa.
Felipe Lemos é um artista completo. O fluxo é de dentro pra fora e também de fora pra dentro. Ele transforma sentimentos confusos e incertos em ilustrações cheias de personalidade, se inspira em quem já está na caminhada e une elementos, faz arte mesmo. Com sentimento, com propósito, dedicação e esforço.
Tatuar a pele de alguém é um ato mútuo de confiança e coragem. Que ele conquistou. Que ele tem. E que agora, te inspira também.
Os recortes que conheci de sua história vão se costurar com a entrevista que te trago agora para que conheça um coração que acredita muito na realização dos nossos sonhos e te ajuda a ter um registro eterno na mais nobre das casas, o corpo.
01. Quando foi que sentiu o despertar para trilhar o caminho da tatuagem como profissão?
Quando me mudei pra Santa Catarina e conheci uma pessoa, o Nathan. Ele foi quem fez eu me envolver mais com a arte, se interessava em compartilhar informações comigo e eu gostava muito da forma como ele trabalhava. Foi quando comecei a ter um olhar crítico para tatuagens e esse tipo de arte.
02. Quem é o Felipe quando está tatuando?
É o Felipe que quer se encontrar, que com isso já se mostra muito feliz e certo do que quer. A tatuagem é algo muito significante pra mim e para as pessoas, é a marca de uma história na pele, um significado. Tatuagens registram momentos que viram arte no corpo das pessoas representando amizades, estilos, tantas coisas.
03. O que diria pra ti mesmo daqui 10 anos?
“Que bom que tu fizeste essa escolha.”
04. O que é a tatuagem pra ti? Como te sente sendo alguém que as pessoas procuram para eternizar artes em suas peles?
Tatuagem é a representação de algo para vida toda, de mostrar quem somos, de como queremos ser, de expor algo em nosso corpo que faz sentido para nós, que nos representa, sem desconsagrar nosso corpo. Me sinto honrado, ficarei na história dessas pessoas pra sempre.
05. Que marca tu quer deixar nas pessoas que tu tatua?
Que faça as pessoas olharem para a tatuagem e sentirem orgulho, certas de que é desse jeito mesmo, que a escolha foi certa.
Queridas e queridos leitores!
Aqui, quem te escreve é Victória: Escritora, idealizadora do projeto Caçadora de Histórias e colunista da Revista TRAMA.
Começamos esse ano cheio de páginas em branco escrevendo a nossa e trazendo a coluna de maneira ainda especial, porém renovada. Aqui conecto minhas palavras com a arte que a revista respira e traremos, quinzenalmente, histórias de artistas de todos os vieses como literatura, música, cinema,
dança e muitos outros, ajudando a reforçar e relembrar o quanto somos bordados e perfumados por toda essa pluralidade.
Com carinho, esperança e muita fé,
Victória Vieira
Victória Vieira é escritora e idealizadora do projeto Caçadora de Histórias. Caçando e ouvindo histórias, vou escrevendo a tua com minhas palavras e te ajudando a ter um novo olhar sobre ela. Siga o projeto no Instagram.