A ideia do filme “O monstro do Rio Paraibuna” ocorreu em debates cineclubistas com Felipe Fontenelle e Atrum Regina, no Cineclube Movimento do IAD e no Cineclube Monstro, no Espaço Excalibur.
Inspirados em filmes clássicos de monstros da Universal Pictures, como The Creature of Black Lagoon (1954), Frankenstein (1931) e Drácula (1931); na filmografia trash do Petter Baiestorf; e até em jogos eletrônicos como a série Resident Evil, optei por produzir um trabalho prático com roteiro que pudesse criar um monstro com características juiz-foranas.
“O monstro do Rio Paraibuna” tem como personagem principal o professor Francisco Guimarães, especializado em biologia aquática. O arco dramático de Guimarães se relaciona com a presente desvalorização aos professores no Brasil, o que contribui para a precarização do ensino em todo o país.
Presenciei em escolas públicas, tanto municipais quanto estaduais, uma situação extremamente preocupante de profissionais desmotivados, prédios em ruínas e merenda insatisfatória. O personagem Guimarães é um depoimento de como anda a vida desse professor esgotado física e emocionalmente, que luta por sua sobrevivência em um mundo cada vez mais violento e desolador.
Eu já havia participado de outras obras audiovisuais, desde curta-metragens a documentários e videoclipes, mas esta considero ser a primeira concepção que levei tão a sério devido ao grau de envolvimento. Esse foi, portanto, um processo de longo prazo em que pude colocar em prática as experiências adquiridas nos exercícios que envolviam produções cinematográficas anteriores e os conhecimentos teóricos oriundos da sala de aula.
Escolhi produzir um roteiro de ficção científica com traços fortes de horror que permitisse questionar problemas ambientais como a poluição da água e a disposição de lixo em locais inadequados, bem como a desvalorização da educação.
A partir de então, criei com Felipe Fontenelle um argumento em que Guimarães, o personagem principal, foi caracterizado como um professor que se dedicava a estudar estranhos fenômenos envolvendo capivaras em um rio e que experimentava o negacionismo das pessoas em sua pesquisa.
No gênero horror, quase sempre uma testemunha se torna consciente da existência do monstro, da ameaça que ele constitui, da proximidade da catástrofe, e se esforça para comunicar a população sobre o perigo. Somente quando o monstro aparece publicamente é que a coletividade acredita na existência do monstro e as pessoas tentam se defender como podem. Guimarães é um estudioso que busca por provas para confirmar suas teses científicas durante a trama.
Ao redor de Juiz de Fora, podemos notar uma sensível quebra da organização biológica, com o agravante de que as águas domésticas estão infectadas por germes patogênicos. Guiado pelo senso ecológico, a ficção científica em “O monstro do Rio Paraibuna” desenvolve uma dramaturgia de monstro pertinente ao contexto de desastre ambiental que projeta o zoomorfismo da capivara a partir de alterações físicas especulativamente provocadas pela poluição.
Aprendi com a decupagem clássica algumas etapas convencionadas do texto cinematográfico em estrutura linear, como o storyline, o argumento, o tratamento, o roteiro literário e o roteiro técnico. A construção de um bom argumento era fundamental para aquele projeto dramático que demandava o paradigma dos três atos.
O ato I é o início como apresentação, o ato II é o meio como confrontação e o ato III é o fim como resolução. Os personagens são fundamentais nessa estrutura e movem a narrativa através de suas necessidades, conflitos, contextos, pontos de vista, atitudes, personalidades, comportamentos, revelações, identificações e ações. Próximo ao final de cada um dos atos há um ponto de virada, conhecido também como plot point, que normalmente são responsáveis pelo sucesso do roteiro.
A construção da narrativa em roteiro audiovisual constitui várias etapas da pré-produção à pós-produção. Uma série de terminologias de roteiro é utilizada buscando evitar confusões no meio profissional. O protagonista geralmente sofre uma transformação, modificando-se ao longo do enredo.
No argumento de “O monstro do Rio Paraibuna”, a estrutura se orienta pelos três atos de Field, pois o primeiro ato apresenta a história de Guimarães, o professor biólogo que, na busca para que sua mensagem seja ouvida, conhece Bruno, um pescador vítima do monstro capivara.
O professor confronta o monstro no mesmo local em que Bruno foi atacado e escapa por um triz, correndo a esmo pela mata. Ao mesmo tempo, a repórter Beatriz Lobo descobre a verdade por trás do desastre das capivaras e começa sua jornada à procura de Guimarães.
O professor se esconde em uma casa e descobre que seus moradores foram mortos. No segundo ato, Guimarães procura refúgio ou meios de se comunicar na casa onde é atacado por uma horda de monstros. Ele tenta buscar ajuda da polícia, que ignora seu alarme.
Em um momento de distração dos policiais, Guimarães liberta Bruno, que tinha sido preso como “louco”, e rouba algumas armas da delegacia. Logo após, chega Beatriz à delegacia procurando o paradeiro de Guimarães. Ela recebe uma pista de que eles estão a caminho da usina. A cidade é atacada por capivaras mutantes enquanto Bruno e Guimarães chegam à usina para fechar o registro de bentonita. No caminho, eles conversam sobre suas vidas e ficam mais íntimos, até serem interrompidos por uma horda de monstros capivara.
No terceiro ato, enquanto os verdadeiros responsáveis pelo desastre ambiental planejam sua fuga, Beatriz encontra Guimarães na usina e Bruno se sacrifica para salvar os dois. Com a ajuda de Beatriz, Guimarães fecha o registro e conseguem uma solução para o problema. Guimarães, Bruno e Beatriz são considerados heróis por restaurar o equilíbrio, mas as consequências do desastre permanecem, deixando o final semiaberto.
Leonardo de Souza Amorim é graduado em Cinema e Audiovisual, graduação em Artes e Design pela Universidade Federal de Juiz de Fora e intercâmbio internacional em Covilhã na Licenciatura de Cinema pela Universidade da Beira Interior-Portugal, com bolsa da PII-GRAD, onde desenvolveu pesquisa sobre teorias e prática cinematográficas utilizando a plataforma Moodle. Foi produtor de mídias audiovisuais no departamento de marketing para a Escola de Aviação Civil ACJF no período de 2019-2021. Realizou TCC para a UFJF sobre produção audiovisual (orientado por Sérgio José Puccini Soares) e produziu para o ACJF as gravações e edições de mídias audiovisuais para um curso teórico à distância de piloto de avião.