Mandaram-te avisar, nobre Glauber: Queimaram teu último roteiro. Vossa mercê pode ver com os olhos, destruíram a miserável vida de Antônio das Mortes. A imagem se bordou em fogo, o close-up é em ti, cidadão. Não é nenhuma sacanagem, quem dera fosse uma breguice de pornochanchada; mataram teu filho, Sganzerla. Levaram a bilheteria, leiloaram as salas para os sacerdotes, queimaram o milharal, congelaram as garrafas de Coca-Cola. Só sobrou o primeiro-mundismo, que triste fim. Conheça-te a ti mesmo, João Acácio? Parece-me que balearam-te à queima roupa, não foi? Assim foi com seu terceiro-mundismo, tacaram um bando de colonos, puros de alma, ricos de moedas: castos e santos. Ligue para Cervantes, temos novos Padres aqui. Agora queimam nossos gozos, nossos alentos, nossos choros, nossos risos, teus livros e meus filmes. Hoje, os sete se foram, apenas o palhaço, a criança e a mãe sobraram. É tempo de ti, filho do Pai, reencarnar. Professam sobre teu nome para queimar a memória, afligem sobre mim o medo do esquecimento. Peço a ti, filho do Criador, que troque uma ideia com os povos da selva, que se una aos deuses da terra e do mar, que solicite aos romanos que abram mão da nomenclatura, e que juntos, fortaleçam seus súditos. O céu precisa cair sobre nossas cabeças; taciturnos, diz Andrade, iremos até lá, de mãos dadas. É o fim do cinema: o filho de quase 200 anos, a imagem em movimento, a fala poética. O cortejo do Zé passa, os brazileiros comemoram, o cinema brasileiro é sujo! nojento! uma vergonha! onde está o Oscar?! [o estadunidense é ouro, e nós somos esterco], adubo, que não cresce nada que os limpos, pilotos de fim de semana, proprietários de HB20, aprovem.
Nicholas Emanuel é estudante de Psicologia e, por necessidade, escreve e tenta fazer graça com poemas desajustados, crônicas bagunçadas e artigos desalinhados.