A cidade se arma os prédios escondem o céu as calçadas cobrem a terra as sirenes calam os pássaros. A noite é mais poste do que estrela e pelas manhãs o café, industrializado e apressado, diz que é hora de partir. À cidade incomoda a árvore com raízes rebeldes que quebram calçadas e dançam a fiação. Logo virão os homens já tão podados destinados a também podar com suas serras elétricas e seus mandos de destruição. Ordem! Ordem! Ordem! O capital arquiteta a vida não convém floresta ou fluxo natural de água alguma sequer também convém gente. Tem obra nas margens para o rio não invadir e tem espinho nos bancos para o seu Jorge não deitar. Porém as árvores brotam dos troncos que sobram os pássaros esperam p a c i e n t e m e n t e um respiro das sirenes o sol se espreme entre os edifícios e queima a janela de alguém as chuvas fazem ponte para o rio passar por cima de tudo. O arquiteto não vê as rachaduras na sua construção onde espia, sóbrio e tranquilo, o vir-a-ser.
Fernanda Zeloschi é estudante de Psicologia, escritora teimosa e acredita nas faíscas do afeto através do @fazerafetar