1.
Eu tenho um anu-preto em meu peito
Tu que não tens pássaros não entende como é
Ele emana suas dores por meio do meu coração
Nós sentimos as mesmas pulsações
Vós me permites dizer o seguinte
Elas, malditas dores, são meu passado
Entranhas podres que preenchem meu ser
Esse pássaro não está preso em meu peito
Nunca esteve, nunca estará
Suas grades nunca existiram
Porém o que faz ele ficar
É o simples medo de voar
Já que suas asas outrora eram ensanguentadas
Açoitadas,
No dia que esse pássaro negro sair do meu peito
O eclipse nada será
Em comparação a ave
Que vivia livre, mas querendo se libertar
2.
Eu gostaria de dizer que sou humano
Infelizmente tenho que ficar reafirmando
sou preto, pobre, vim da periferia
desarmando esses preconceitos
Que me dizem que só tenho que me fuder
Ou sou bucha de canhão perfeita
Para as balas da DP
Queria ser humano, brincar sem preocupação
Mas vivo num estado genocida
Que me mataria e ainda diria que a culpa seria
Da minha subversiva opinião
São pais autoritários
Te espancam sem motivo e pedem respeito
Só que estamos acostumados a correr dos medos
Viver mais um dia é sempre a melhor opção
Eu acho que não
Minha vida faria mais sentido se eu vivesse com razão
Se viver com medo da morte seria a consequência
Fazer o que então
Estamos acostumados a morrer por nada
Lutaria por mil estradas
Para ver meu filho caminhar sem medo por mil estradas
3.
Eu tenho um pássaro negro em meu estômago
Não no coração, nele só há amor por você
Esse pássaro que vive em meu estômago
Faz as náuseas pungentes serem insuportáveis
Afinal tudo me dá asco
A política, a polícia, a milícia, o presidente
Esse pássaro negro está acorrentado
Talvez por isso me provoque dor
Ele quer ir ao meu coração
Voltar a bater asas
Meu cérebro voltar a escrever e sentir
Como um elemental de ar
Fazendo todas as veias circularem
Uma plenitude que eu anseio dominar
Quando esse pássaro voar do meu estômago
Talvez sobre as borboletas
Que faziam ele pinicar
Vão voltar com toda força
Finalmente, nos momentos felizes
poderei me alegrar
4.
No fim da noite há um poeta
um passáro negro, anu-preto
urubu de sentimentos
rasgando carniça, buscando acalentos
medroso, querendo fugir de tudo
querendo guardar cristalizado
a última chama de amor que sobrou
Felipe Souza Milhomem (ou Felipe o Mago) é nascido e criado no Tocantins e tem uma história na arte que começou no teatro, foi Integrante do Grupo de Teatro Melodramático médio drama proveniente de um projeto de extensão do IFTO e logo após sua saída do ensino médio participou do Anuário de Poetas e Escritores Tocantinenses da Editora Veloso no ano de 2019. Foi 2º Lugar no Festival de Causo e Poesia Declamada na categoria poesia – aberta do SESC Palmas e no ano de 2020 publicou de forma independente e online o livreto ‘’Escombros de Tesão e Fúria’’. As duas últimas participações do autor foram na Antologia Poética ‘’Ruínas’’ da Editora Patuá e na Antologia Palmense ‘’Onde mora o Girassol’’ da Editora Vecchio,.
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