Lírico à Medusa

Pela janela do quarto sai toda a ilusão,

 espeta no sol do meio-dia toda a agonia,

nada tem a significar que a dor da agonia seja móvel,

deitar-se numa cama em meio ao verão,

e ver ali na escuridão os pássaros a dançar,

 sentir as manhãs quentes na alma,

e quem sabe na brisa do mar que aprofunda a meditação

na respiração gostosa;

 mas, nestas manhãs na treva do labirinto,

 a esta manhã nada atingida de glória.

Aprisionada na caverna futurística

mergulha os olhos mais afundo na terra,

nas correntes de ar que afundam ao inferno.

O sol torna amargo: que amargues!

O corpo em eixo adentra as entranhas do mundo,

 e teus olhos em chama de revolta,

não vê a luz, sendo alienada a conquista.

 Irrepreensível coração em luto,

um luto que em verbo é mais forte quando fala:

Vingança

Tristeza

Solidão

Porém, os olhos cegos estejam na penumbra,

não dão conta ao disparo do coração,

Medusa, é o nome falado.

Até o escuro que nós cerca

 esteja a dela na caverna

talvez seja a virgem a condenar?

Esvazia o corpo réptil,

frenética na busca da vinga

na pele seca escondendo o pânico,

vem a Medusa assustando-se,

alimentando assim o teu ego.

O que tem no teu virgem olhar de cal?

A este olhar que zomba da carne

o prodígio do homem,

daquele que em transe torna-se pedra,

da figura nua empalhada em guerra

a uma batalha que esvazia a alma.

Que em um templo é totalmente real,

devotado a besta solitária.

Mas, que não se zingue a alma solitária,

da fúria de Atena.

(Mas, daqui do quarto, só sinto,

a fúria do vento, do sussurro de guerra)

só que na falta do júbilo,

assanha a malvadeza de Medusa:

   – na alma selvagem ordena o maior!

   -os delírios da alma ordenam a selvageria!

    -místicos, místicos, místicos.

O logrado que foi abandonado de beleza

 sabe, falta a orquestra da criança abandonada,

o chorando que preenche alma,

 o histérico cuidado de mamães e papais,

talvez, Medusa abandona, seja eu,

uma framboesa batida e seiva bem gasta.

Como hás-te de pôr perfeição?

Mamãe e papai abandonou o filho no beco.

mas, para mim, mamãe e papai gostava de vésperas a sós.

A uma orquestra de carência que nesse mundo:

caminha a bosta que cheira bem,

uma vingança chula,

 um equilibrista fanfarrão.

Medusa não só vive, como é espírito.

É uma falta de clareza!

Não é um adeus que seja sempre (para um vácuo)

uma música que será esquecida,

um choro guardado do peito.

Vives, assim, vives, perdida, Medusa, dentro de mim.

Formam no lábio um cuspe duro,

daqueles que voam longe,

longe de tudo, pousa o cuspe na luz!

emudecer o choro, ah, calar-me na treva,

entregar-me a gênese da solidão.

 Pronto a mim, Medusa degolada,

a esperar do a pedra do coração derreter,

fundir da alma uma voz perdida,

 um choro que seja aberto e gritante,

que liberte a minha alma da maldição.

Ter uma deusa inimiga,

tendo eu corpo feminino,

 semelha para sempre a vinga do sexo,

uma missão perdida dada a falida menção,

 um canto mulheril que como relógio bate,

e o cuco não é ouvido.

Medusa mulher! Medusa maldita,

Degolada, maltratada, hirsuta.

Medusa aguçada da minha alma,

que na falta da luz, alimenta-te.

Diante da dor da vingança,

zingada ao repúdio de uma deusa,

uma caverna inclinada aos céus,

ei-la a alimentar da dor do parte, que não tiveras,

do passo mau dado,

do olhar do soldado,

do ranger de dentes da penetração fortuita

do cabelo de víboras,

do severo olhar de pedra.

Na neblina da vida, rango meus dentes,

e deitada na cama, repudio a todos,

que ao cortar a cabeça de Medusa,

 cortou um pouco de mim, a salvação

numa saudação de varanda,

 olhando a mata, penso na caverna,

 e vejo seu corpo sem cabeça,

desejando pensar em vingar-te.

A alma em rodízio na treva no quarto,

ora quer vingança ora quer arrependimento,

como se celebrasse a alma tornando líquida,

só não sei se na alvorada torno-me réptil.


Moraes Júnior é estudante de Engenharia Ambiental e poeta. 



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