Tem-se imagens fotográficas de base química em p&b e suas perdas resultantes como catalisadoras de um processo artístico no qual se desenvolveu uma série de trabalhos que dialogam com o conceito de latência expresso por Joan Fontcuberta e o de Arte Mestiça, estudado por Icleia Cattani. As obras envolvem processos de miscigenação: foram alternadas e justapostas técnicas e matérias, processos e meios que, por vezes, podem ser considerados antagônicos, como por exemplo, os da tecnologia digital e os da manufatura.

Para a produção das obras apresentadas, desenvolveu-se inicialmente um processo de trabalho no
qual se aliou a teoria à prática diária em laboratório fotográfico, tanto quanto o ato de costurar e de desenhar
sobre as fotografias. O começo dos trabalhos se deu com a captação de imagens em filmes p&b de 35 mm.

Os negativos foram revelados e digitalizados e, em seguida, as imagens sofreram alterações a partir de um
programa editor. Após serem impressas em papel fotográfico, as mesmas passaram por um processo manual
no qual se acrescentou manchas com tinta a óleo e com tinta acrílica, riscos com estilete, costuras com linhas, colagem com diferentes tipos de papéis, inserção de alfinetes, pregos e grampos, etc. Por fim, algumas fotografias acabam sendo apresentadas dessa forma, como cópias únicas, outras são redigitalizadas e impressas em tamanho e papel adequados e, ainda, há as que se tornam imagens em movimento a partir da técnica de stop motion e são utilizadas para a produção de vídeos experimentais.

No trabalho desenvolvido, as imagens fotográficas agem como catalisadoras de um processo de
recuperação de perdas: perda do tempo da fotografia, incluindo o tempo de latência da imagem, e de suturas.
Sobre o estado de latência em fotografia, Fernando Braune, no livro O Surrealismo e a estética fotográfica
(2000), afirma que o mesmo costuma ser angustiante, visto que em tal processo sempre se trabalha em dois
extremos: antes da revelação, quando nada se tem além de fantasias; e o momento posterior, na ocasião em que esses vislumbres são rompidos ao se retirar o filme do tanque de revelação e colocá-lo contra a luz.

As fotografias servem para mim tanto como base, como referência, quanto, por vezes, como produto final. Existe também a tentativa de transgredir a ideia da fotografia e do desenho como obras bidimensionais,
tornando-as objetos, com a aplicação direta nas imagens de diversos tipos de materiais. Esta mistura de
diversos elementos presentes na obra de forma simultânea não se anulam, tampouco se fundem: eles permanecem sempre presentes, em uma relação tensa, ambivalente, contraditória. As obras de viés mestiço
resgatariam para o campo da arte características de subversão – a mestiçagem seria o meio, a confrontação, o diálogo. A significação viria nas dobras, nas costuras, onde o elemento autobiográfico está indiretamente
presente, mas se revela em uma catálise, em uma permanência possível


Samy Sfoggia(Porto Alegre/RS, 1984) é licenciada em História pela FAPA (2007), bacharel em Artes Visuais pela UFRGS (2014) e pós-graduada em Arte, Corpo e Educação pela mesma instituição (2009). Atualmente é responsável pelo laboratório de fotografia do Instituto de Artes da UFRGS. Em 2012, atuou como bolsista de iniciação científica no projeto de pesquisa “Procedimentos de contato: desdobramentos da fotografia em imagem numérica na arte da atualidade”, coordenado pela professora Drª. Elaine Tedesco. Participou de diversas exposições e teve seu trabalho comentado em livros e revistas online. Em 2015, a Azulejo Arte Impressa publicou seu livro Drømmer om Skov, com fotografias da série “Samy’s dreaming about the forest”.



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