Dias desses um dente-de- leão me parou, e não é que ele tenha crescido e surgido como um monstro enquanto eu caminhava para casa da volta do meu exercício forçado diário. Ele me parou na suntuosidade. Aquele negócio frágil, meio redondo, me parou porque reinava solitário no meio do racho da rua, numa quebra de asfalto. Não era a primeira vez que eu via aquela planta e sempre a achei bela. Lembro-me das brincadeiras de infância, no quintal grande da casa pequena que a minhas tias moravam, era ali a diversão das minhas férias, o refúgio daquela casa simples que tinha tudo exatamente por não ter nada. Naqueles dias divertidos, junto com meus irmãos e primos, a gente arrancava algumas daquelas bolas peludas e soprava, e a gente observava elas se desfazendo, até que alguém, que também estava na brincadeira perseguia alguma daquelas folhagens que restava até que nada ficasse, sendo tudo arrastado pelo vento.
O engraçado, e isso não é um deboche mas um fato curioso, vem de uma das formas ele é classificado, o dente – de- leão pode ser considerado uma erva daninha, é considerado assim por causa da facilidade em que nasce, e na dificuldade da poda.
O dente-de-leão também é uma planta perene, isso significa que seu ciclo de vida é longo, ele resilientemente suporta cerca de dois ciclos sazonais sem desmoronar.
Mas a reviravolta do fato vem quando se descobre que, a parte que encanta do dente-de-leão é a que não serve mais para estar, ou melhor: a parte morta. Aquele pomponzinho do dente-de-leão que conhecemos, outrora fora uma florzinha amarela, provavelmente uma igual àquelas que nascerão dos nossos túmulos, como diz Drummond. As florzinhas amarelas quando secam, se fecham como se fossem uma flor em botão, e com o tempo ela vai se abrindo nova, mas a mesma. Dessa vez não em pétala e em flor, mas em encanto, pluma e pronta, aquelas espécies de penas são sementes, que levadas pelo vento ou crianças brincalhonas crescem em novos campo,prontas para serem uma nova pétala, flor amarela, pluma, encanto, brincadeira, e ir renascer por onde o vento for.
O dente-de-leão que nem é flor, é mato, não é palavra, é fato, se torna sem valor. Quando ele renasce no meio do abstrato traz a vida em atos, fases que nos levam para longe mas sempre plantadas no solo de quem somos além do que. Nem toda flor é flor do medo que enfeitam caixões, nem todas são rosas vermelhas de amor, ou enfeites extravagantes de eventos e reuniões. As vezes ser flor é não ser flor. É voar em semente e encantar caminhantes, sendo tudo que nem eles mesmos podem imaginar.
Bárbara Oliveira é calma, resultado da soma do acaso de tão acostumada com o adverso, como diz o samba. Fã de um bom pagode e conhecedora de referências em italiano pra várias sessões de O Poderoso Chefão, Bárbara contempla a vida com um olhar peculiar de quem consegue desnudar camada por camada de cada texto ou pessoa.
Antes uma leitora e fã dessa revista, graduada em Letras pela UFJF, depois de anos trabalhando em sala de aula, hoje completa o time de autores e a equipe editorial com a maestria de um neurocirurgião, com os seus conhecimentos poéticos, desbrava as vidas nessa cidade e conforta os amigos com sabedorias dos imortais da literatura.
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