Enquanto minha avó nascia, o galo cantava no quintal
e para escutar, ela não chorou
no quarto, pensaram que tinha nascido morta
mas logo depois viram o peito arfando,
os braços se contorcendo, procurando
um, dois, três, quatro, cinco
dedos, tudo perfeito
entregaram à mãe
é menina
ela tampouco chorou
Quando minha mãe nasceu, chovia forte e o pai[Quebra da Disposição de Texto]demorou a conseguir um táxi
ele vestia sobretudo e sapatos engraxados,
saiu da firma direto para o quarto andar da maternidade[Quebra da Disposição de Texto]chegou tarde, perdeu a dor, os gritos
a viu pelo vidro, já estava toda vestida[Quebra da Disposição de Texto]de rosa
o choro combinado
ao de mais oito
Quando eu nasci, era uma sexta-feira tranquila
em casa
e ela
não podia acreditar na cor dos meus olhos
tocou com a ponta dos dedos meu nariz
devagar
olhou os dedinhos, as unhas do tamanho de grãos de arroz
não sabia dizer o que espantou mais
a perfeição, ou [Quebra da Disposição de Texto]que ela tivesse saído
de si
Dayanne Dockhorn nasceu em uma sexta-feira de 1993 em Porto Alegre. É escritora, viajante e antropóloga graduada pela Universidade Federal de Pelotas. No Medium, edita as publicações Estrangeira e Deveria ter dito, enquanto prepara seu primeiro romance e escreve a newsletter Inventário. Conheça o trabalho da autora aqui e a acompanhe nas redes.
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