Em uma quinta-feira em São Paulo, ao som de buzinas, ônibus e notificações do trabalho, escrevo no pior dia da semana. No dia das aulas de química no colégio, dos piores treinos na academia e das notícias mais tristes, segundo minha própria opinião. Escrevo porque meus pensamentos e sentimentos não parecem ligar para o dia da semana, se bem que devo a eles um certo mérito, o turbilhão de pensamentos chegou a mim ontem, me alcançando em uma velocidade muito superior à do metrô em que estava.
O dia de ontem explicitou algo em mim, depois de dias procurando um norte para minha vida, uma direção do que seguir como próximos passos, o que correr atrás e como ocupar os próximos anos, lá, na linha lilás do metrô, entendi o porquê de todos os caminhos parecerem tão difíceis, tão cansativos como as baldeações de Pinheiros e da Consolação.
Percebi que sinto saudades constantes, todos os dias. De quem fui, de quem vi e do que senti. Saudades do que passou e do que está para passar. Talvez seja culpa da nostalgia impregnada na minha geração ou talvez a percepção dura e cruel que os meus 20 e poucos anos me trazem, de que tudo, absolutamente tudo, passa e escapa entre os meus dedos antes de sequer eu ter a chance de segurá-lo. Passa como se nunca tivesse sido meu e me deixa à deriva no mar de lembranças e saudades, desnorteada demais para de fato entender algo.
Então tenho saudades. Saudades da certeza de que era a personagem principal de qualquer coisa além da minha própria história, dos sonhos irreais e desejos insanos, da sensação de conforto e segurança daquele abraço, da coragem e convicção que poderia me guiar pelos caminhos mais tortuosos e escuros. Saudades de querer tão desesperadamente liberdade que poderia gritar para que me deixassem ir. Até que me deixaram ir, só não me avisaram que eu não voltaria, não como antes, que a casa teria um cheiro diferente, que o até então meu quarto pareceria menor, que os anos passariam e que as pessoas mudariam, envelheceriam, se tornariam mais frágeis do que pareciam ser, que a minha casa não teria mais o sentimento de casa e que eu não me encaixaria ali como uma vez fiz.
Eu não esperava perder tão intensamente o brilho ofuscante que tinha nos meus olhos, não esperava perceber a minha insignificância tão cedo, não esperava sofrer tanto por conquistar o que desejava. Não esperava estar onde estou.
E agora? E agora? E agora?
Não sei, não sei e não sei. Saber, também, é algo que tenho saudades.
Dessa forma cheguei em casa, mais esgotada pelos meus pensamentos, sentimentos e reflexões, do que pelo trabalho do dia. Querendo apenas desacelerar um pouco que seja, para buscar ar, paciência e refúgio em algum canto da minha mente que não estivesse tomada pelo vazio da saudade, para preencher o meu redor com distrações e não ter que lidar com tudo, para que a noite me acolhesse como uma amiga na terra dos sonhos e, me guiasse até a manhã seguinte.
Luana Katsumata é uma jovem comunicadora formada em Relações Públicas, ex-atleta profissional de tênis de mesa e aspirante a escritora desde criança. Já integrou a primeira revista feminista e colaborativa de Bauru, no interior de São Paulo, a Revista Helenas, e, atualmente, trabalha com marketing digital.
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