Retrato em preto e branco 

Na escala grey da Kodak® não passam de onze. Na obra de E. L. James são cinquenta, na escala Pantone®, uma infinidade, quase, incontável. Vai do ‘7653 C’ ao ‘cool gray 11 C’, passando pelo ‘409 C’. Uma lindeza.  

Temos ainda as réguas de impressão, escalas de tintas para arquitetura, pastas para silkscreen, linhas para bordados, crochês e tricô. Uma infinidade de nuances nesta mistura encantadora entre o ébano e o marfim, como nas teclas do piano em que se misturam em tons musicais. 

Afinal o cinza é uma cor chique. Na arquitetura o, consagradíssimo, arquiteto Chicô Gouvêa o traduz assim: “A cor que mais uso é o cinza, em várias tonalidades, junto com outras mais fortes. O segredo é que ele funciona muito bem quando se junta às outras além de ser um excelente fundo para obras de arte”. Sábio. 

É também uma cor estigmatizada; talvez por não fazer parte do ‘Disco de Newton’ ou do arco-íris. É quase uma cor considerada, do ponto de vista preconceituoso é claro, purgatório. 

As meninas não podiam usá-lo lá nos idos dos anos 1960, pois, segundo suas mães e avós, era uma cor para francesas lindíssimas. Com o que, humildemente, não concordo. Como esteta que sou – vem da fotografia, muitos olhos azuis deixaram de embelezá-lo (o cinza), por puro preconceito à cor. Muitas meninas lindas deixaram de desfilá-lo nas calçadas de Ipanema, Copacabana, da Rio Branco ou da Ouvidor. Quantas não foram ao chá das cinco na Confeitaria Colombo, acompanhados dos deliciosos ‘leques ou ‘casadinhos’, na Manon, com os verdadeiros madrilenhos, na Casa Cavé com as almofadas, mil-folhas e Dom Rodrigos e, finalmente, no Cirandinha com os deliciosos ‘waffle’.  

Quantos metros de organza, tafetá e crepes deixaram de ser vendidos pela Notre Dame de Paris, pela Casa Assuf, pela A Imperatriz das Sedas ou pela Kalil M. Gebara? Quantas estilistas deixaram de copiar os moldes encartados na revista “Manequim” simplesmente porque a cor sugerida era cinza? E os ‘Courrèges’ que deixaram de ser copiados…? Puro estigma, ou quem sabe, preconceito. 

Os dias têm aconzentados, talvez o nublado de mentes apequenadas, que não conseguem perceber o significado da palavra, ou mesmo, do sentimento, amor, paixão, tesão, entrega; sejam elas em qualquer esfera. Mentes equivocadas que deixam escorrer por entre os dedos suas melhores oportunidades em troca das cinzas provocadas e, claudicadas, pela fogueira das vaidades, eternos perdedores encimados em seus pequenos e voláteis ‘podres poderes’. 

Minha mãe sempre disse uma coisa interessante: “Quando escrever, saiba ser sutil ao ponto de que vistam a carapuça àqueles a quem não foi interessado o texto”. Tinha absoluta razão. 

Mas há, ainda bem, o Phenix que ressurge das cinzas… borralha… Cedo ou tarde o sol brilhará. 


Carlos Monteiro é carioca, nascido em Santa Teresa, é flamenguista e portelense. Carlos Monteiro é fotógrafo, jornalista, cronista e publicitário desde 1975. Trabalhou nos principais veículos nacionais – Revista O Cruzeiro, JB, Jornal dos Sports, História e Glória do Rock, revista Foca além de outros como freelancer. No Jornal O Dia, publicou a foto-galeria, ‘Alvoradas Cariocas’, retratando o amanhecer. Atualmente colabora com o Correio da Manhã, a Revista 29H, a Revista da Família, a Revista Publicittà, o Portal Mirada Cultural, o Portal Anna Ramalho, a Rede Lume de Jornalistas, o Portal Pro Coletivo, o Portal Os Divergentes, o Portal Jornal Digital, o Portal São Paulo Sao, além de atuar como publicitário na Agência Saravah e para alguns outros veículos. Tem três foto-livros, publicados, retratando o Rio.

@carlosmonteiro_br  


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Um comentário

  1. Lindo!! Particularmente, sempre tive grande apreço pelo acinzentado, pois nos dá a sensação do claro e do escuro, do exposto e do escondido, e isso é pura prosa literária para mim.

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