Ainda sinto a brisa serenar em meu rosto. A paz anda de mãos dadas comigo. Como em uma caminhada, os passos leves formulam o encontro do eu com meu eixo. Me exijo compasso ao passo em que a paz continue a me entorpecer como uma brisa relaxante. Continuo a caminhar. Comigo. Com…migo…
A ansiedade me dá uma trégua agora. Venho aprendendo tanto com meus momentos de solidão que desconfio que a solitude me abraça à doces fragrâncias de rosas com morango e florais cítricos, como os perfumes de minha mãe usava, e eu que sempre critiquei esse gosto particular dela, agora sou quem me identifico com o mesmo aroma, tão materno.
Hoje, não me parece uma mentira quando Elis cantava “Como Nossos Pais”. Sim! Somos exatamente a cópia perfeita e também imperfeita deles. Como filhos, vamos dando passos afim de que o certo venha galgar um melhor espaço, na “melhora” da linhagem da família. Mas me entender e compreender minhas raízes, me trouxe paz. A paz que eu relutava em abraçar. A paz tão necessária para me entender como sou e porque sou o que sou. Mas somos tão humanos que tentamos esconder de nós os nossos pilares tão edificáveis, negar aqueles defeitos tão intrínsecos, até ao ponto de uma mudança necessária exatamente exigida e compreendida por esse olhar em meus pais.
Assim, solidão não é tão má. Ela me acolhe. Me endurece dos sons de fora. Não me apavora. Não me diminui. Pelo contrário, no anonimato de mim mesma, aprendi a ser grande em silêncio e no escuro de mim. Dei minha mão ao obscuro e o óbvio veio à tona. Advinha? Encontrei a luz, o possível entendimento do porquê de algumas atitudes minhas e do porquê permitir atitudes alheias: há um pai ausente em mim e uma mãe presente por demais. Os perfeitos extremos.
Como nossos pais, reproduzimos o que vemos, o que ouvimos, e o que somos. Mas lutamos por uma identidade própria com os resquícios de nossas raízes já fragmentadas.
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Mayara Cassiano de Sene Oliveira, tem 34 anos, é professora, leitora voraz e escreve para silenciar as vozes internas que ora dão o tom da arte, ora dão o teor obscuro de seus escritos. Um olhar melancólico e nostálgico da vida lhe confere um bom punhado de escritos lapidados com esmero.
Instagram: @mayaracass
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Linda reflexão. Já dizia Alberto Caieiro” Procuro despir-me do que aprendi. Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar minhas emoções verdadeiras. Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro, mas um animal humano que a natureza produziu.
Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
isso exige um estudo profundo,
uma aprendizagem de desaprender…”