A sociedade brasileira traz, historicamente falando, uma relação muito forte com a religiosidade. Ainda que não se negue, pelo menos é o que se espera, a existência da diversidade cultural-religiosa que se encontra nas bases de nossa formação enquanto cidadãos, a identidade do povo brasileiro é resultado de uma miscigenação não apenas no aspecto étnico, mas também no campo religioso, que refletirá na cultura de uma maneira geral.
Ao passo que é partindo de uma construção ideológica que se torna fundamental para a construção da identidade de um povo. Nesta organização de ideias vale a pena traçarmos aqui alguns aspectos fundamentais que envolvam a sequência: ideologia, fé, religiosidade e religião. A primeira independe das demais, e quanto mais próximos estivermos da última, mais dependentes estaremos da primeira. O que não é raro, ainda que se haja, por parte do indivíduo, uma escolha por uma determinada religião, as ressonâncias históricas culturais com o sagrado ainda, se algum modo, persistam no cotidiano.
Trazendo o tema no contexto histórico brasileiro, podemos compreender, por se contar de um passado colonialista – que, aliás, lamentavelmente, cujas premissas ainda persistem nas relações sociais contemporâneas, de que restara ao indivíduo que se encontre desfavorecido desta economia dois caminhos para sua existência se tratando de um aspecto coletivo: o de estabelecer laços tendo por base à fé ou de se unir à sua comunidade no aspecto de identificação na partilha por interesses políticos que objetivem o bem-estar comum.
Se apega ou se une a algo para não fazer do ideal uma luta meramente solitária. Mais do que apego ou união pura e simplesmente, existe uma força ainda maior do que estes movimentos de aproximação entre indivíduos que se identificariam em um ideal de aprimoramento de sujeito a ser percorrido para um ideal de mundo a ser construído, que será onde tocaremos no aspecto da crença: o de buscar um sentido mais profundo na vida que envolvam perspectivas pessoais e coletivas. Talvez a religião, que assumiria o estatuto de uma instituição, passará a assumir como objeto: de acolher e de assegurar o direito pela existência daqueles que, de alguma maneira, compactuam com seus valores e princípios.
De forma semelhante, a defesa dos interesses de um grupo que detenha o poder e que, por mais curioso (ou não), poderão recorrer a certos princípios religiosos para justificarem seus fatos, que se fundamentam a partir do erguer de seus elementos na forma de símbolos que visam determinar, nos aspectos culturais, morais e religiosos o campo do outro.
Percebemos até aqui uma associação problemática da qual se consubstanciam princípios da fé (inerente ao aspecto subjetivo) e da política (inerente ao aspecto coletivo). Esta última já sendo determinada pela primeira, cujos elementos por certos momentos, não escapariam da possibilidade de serem tendenciosamente reinterpretados, à óptica dos interesses pessoais por parte de algumas lideranças.
Em nossa síntese, trago então algumas questões para reflexão:
1- O que acreditamos faria realmente sentido, com o que concebemos para uma sociedade justa e igualitária, da qual reconhece e acolhe todas as diferenças?
2- Uma política voltada, meramente, para interesses institucionais traria um sentido real, sustentável e inclusivo para uma sociedade em seu aspecto geral?
3- Se optamos pelo apego aos nossos valores e princípios, ainda que na condição de uma escolha individual, até que ponto esse nosso itinerário possibilitaria de enxergarmos o outro como uma alteridade com os mesmos direitos que defenderíamos para os nossos mais próximos?
4- A fé, então, seria um caminho de salvação coletiva? Para sermos salvos de quais perigos, se não daqueles que em nosso íntimo, mais temeríamos?
Daniel Martins Dalpra é psicanalista e professor de teoria psicanalítica. Especialista em Psicanálise pela Faculdade Dom Alberto de Santa Cruz do Sul (RS), Especialista em Gestão Estratégica de Custos pela Faculdade Metodista Granbery de Juiz de Fora (MG). Graduando em Bacharelado e Licenciatura em Filosofia pela Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora (MG). Bacharel em Administração de Empresas pela Faculdade do Sudeste Mineiro de Juiz de Fora (MG).
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