Me gusta el carnaval en Río

“Me gusta el carnaval en Río, Brasil, ya sabes” ele disse tudo isso com aquele olhar torto de quem já havia bebido além da conta, eu procurei na multidão alguém que me tirasse daquela situação, ele cambaleava com o copo na mão e os pés sambavam praticamente de tanto que balançavam. O desconforto maior era que não estávamos no Rio, era carnaval, mas estávamos em Guaxupé, Minas Gerais. Eu nunca tinha ido ao Rio de Janeiro, muito menos ao Carnaval de lá. Já não bastava o desconforto de ter vindo com toda a família a um baile, ainda tinha esse gringo no meu pé, que além de chato, ficava me contando o quanto ele conhecia o meu país. Ele conhecia a floresta Amazônica, já tinha desfilado no carnaval do Rio De Janeiro, já tinha comido açaí de verdade (sim, existe um açaí que não é esse que você compra no mercado) e tirado uma foto com um índio de verdade. Eu nasci em Guaxupé, perdi os dentes em Guaxupé, me formei em Guaxupé e estava indo ao meu primeiro baile de carnaval em Guaxupé, o meu mundo se chamava Guaxupé Terra. Enquanto ele desenvolvia aquele monólogo sem fim sobre suas aventuras no Brasil, eu o imaginava em seu país contando do Carnaval que passou em Guaxupé, a pessoa certamente ficaria com muita inveja.  

Chegado o baile ao fim, eu quase pulei de alegria quando meu pai disse que iria buscar o carro. Me posicionei já na porta de saída ao lado de minha mãe, as três irmãs dela e minha prima Chiquita. De repente uma mão encosta na minha cintura, quando me viro, é ele, o gringo, ele me pergunta se já estou indo para casa. Minha mãe sem entender, pega a bolsa e começa a bater na cabeça dele, eu sou dominada por um ataque de risos sem fim. Chiquita também, cada bolsada que ela dava nele ele sambava mais, minhas tias faziam a torcida do ringue “Isso mesmo! Dá na cabeça desse abusado! ” Minha mãe só parou quando o delegado, que estava na festa vestido de xerife, deu voz de prisão a ela, das risadas eu e minha prima passamos ao choro e minhas tias emudeceram. Meu pai sem saber de nada parou o carro e gritou para a gente “Vamos dá no pé, mulheradas, me contaram lá na entrada que tem uma barraqueira aí no baile arrumando confusão! ” O delegado grita de volta para o meu pai “Não se preocupe, eu já cuidei delas! ”  

Quem poderia imaginar que o gringo era sobrinho do delegado e que ele, na verdade, morava em Guaranésia, a quinze quilômetros de Guaxupé. Saia pelos bailes se dizendo gringo, que conhecia o Brasil, mas, na verdade, nunca tinha saído de Minas. O mundo dele era Guaranésia Guaxupé Terra. O delegado quando viu que as bolsadas que minha mãe deu foram ao sobrinho safado liberou ela na hora e pediu desculpas pelo mau comportamento dele, pegou o sobrinho pela orelha e gritando com ele o carregou até o fundo do salão.  

Acho que no fim ele até que se deu bem, ganhou mais uma história para contar nos bailes de carnaval da vida.  

 


Camila Da Silva é estudante de letras na UNIVALI- Campus Itajaí. Ela é Paulista, possui 24 anos, reside em Itajaí, Santa Catarina há 13 anos. Já exerceu a profissão de atriz por três anos, realizando peças em Balneário Camboriú, Curitiba e Campinas. Aproveita toda a bagagem do tablado para criar contos criativos, além de poesias e resenhas publicados na página encontado_s desenvolvido com seus amigos de faculdade, este projeto de escrita literária possibilita o exercício e a reflexão da escrita. 

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