Antes de pensarmos sobre a relação existente entre clubes associativos e os sentidos da memória, é preciso entender o que são estes espaços e qual a sua importância para a população negra.
O conjunto de experiências vividas durante o período da escravidão como, por exemplo: sociedades de ajuda mútua, jornais dos “homens de cor”, grupos de capoeira, irmandades, dentre outras, tinham o objetivo de suprir as necessidades políticas, sociais e econômicas de uma grande parcela da população que vivia sob condições adversas.
O termo Associativismo Negro é, portanto, proveniente destas experiências e consiste na articulação de mulheres e homens afro-brasileiros em torno de uma atividade ou instituição no espaço público. Surgiu e se desenvolveu, como mencionado anteriormente, ainda no regime escravista, adquirindo novas configurações no pós-abolição.
A discriminação racial na sociedade contemporânea brasileira, consequentemente a necessidade de reagir contra o racismo, sobretudo no sul e sudeste do país desde a década de 1930, transformou os clubes negros em uma forma de reprodução do associativismo, do ponto de vista da representatividade social. Ainda que esses espaços fossem voltados para o lazer, eles incluíram em suas atividades a preocupação com a situação social dos negros, que buscavam possibilidades de estarem com os seus.
Os lugares de memória — museus, arquivos, monumentos, associações — são caracterizados como lugares onde se acumulam vestígios, testemunhos, documentos e imagens, chamadas também de “memórias de papel”.
Ao contrário da História que é universal e se reflete na valorização destes locais, a memória emerge de um grupo e os une. Dessa forma, podemos considerar os clubes negros como espaços de reprodução da memória negra que, atuando na formação política e cultural, produzem uma narrativa de afirmação identitária.
Para além da luta contra a discriminação racial e do caráter recreativo, o associativismo negro se constituía — e ainda se constitui — como local onde essa parcela da população fomenta seus laços de identidade e cria redes de solidariedade, uma das consequências da descentralização e democratização da materialização da memória.
Bibliografia
DOMINGUES, Petrônio. Clubes negros no Brasil: puzzle de um campo emergente. Revista Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 15, p. 1–22, 2023.
NORA, Pierre. Entre Memória e História: A problemática dos lugares. Tradução: Yara Aun Khoury. Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História, São Paulo (10), p. 7-28, 1993.
Jéssica Lopes
é licenciada em História pela UNIRIO, com mestrado em História pela UFJF. É Educadora Social no Movimento Ética na Política – MEP, e participa da equipe de Projetos do Clube Palmares de Volta Redonda.
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